Por: Inez Kwiecinski | Publicado em :
25/01/2011
1
INTRODUÇÃO
O tema escolhido para realizar o meu trabalho de
graduação é sobre "O desenvolvimento da criança
através do brincar". A escolha deste tema surgiu da necessidade de
estudarmos como se dá o desenvolvimento da criança através do brincar e ao
longo dos tempos, ao analisarmos jogos, brincadeiras e brinquedos infantis não
apenas como simples entretenimento para as crianças se percebe como as
atividades lúdicas possibilitam a aprendizagem e o desenvolvimento destas
crianças em suas várias habilidades do nascimento aos seis anos.
Com base nesse entendimento, esse trabalho de
graduação tem como problemática a "Educação para a vida em
sociedade", e o "Ensino e cidadania planetária", seguindo
esta linha, pesquisar e analisar como as crianças reagem ao estímulo dos jogos
e brincadeiras e como essas brincadeiras podem contribuir no seu
desenvolvimento, transformando-as e fortalecendo sua cidadania ainda é sem
dúvida um tema inesgotável e que desperta interesse a muitos educadores e muito
tem a me acrescentar.
Diante de uma série de dúvidas e questionamentos
buscamos respostas. Há necessidade de encontrarmos soluções, tomar consciência
das implicações e das complexidades que envolvem a construção do conhecimento.
Com esta pesquisa busquei compreender e aprofundar
meus conhecimentos sobre o brincar na infância e suas implicações, refletir
sobre a importância do brincar e da brincadeira no desenvolvimento da criança,
ou seja, o brincar e suas relações com a aprendizagem. Além disso, apresentar a
influência do brinquedo e as vantagens que a brincadeira traz para o
desenvolvimento da criança, localizar as dificuldades encontradas pelos
educadores em utilizar a brincadeira como ferramenta pedagógica e avaliar como,
e se, a brincadeira pode propiciar condições para um desenvolvimento saudável
da criança.
Para a criança o brincar não é apenas um passatempo
ou "perda de tempo" como os adultos julgam. Suas brincadeiras e seus
jogos estão relacionados a um aprendizado fundamental, ou seja, por meio dos
jogos cada criança em determinada idade, cria uma série de indagações a
respeito da vida.
Segundo Friedmann (2006, p 17),"o brincar já
existia na vida das pessoas bem antes das primeiras pesquisas sobre o
assunto". E como surgiu esse interesse pelo lúdico? Acredita-se que pela
diminuição do espaço físico e temporal destinado a essa atividade, que
supostamente tenha sido provocada pelo aparecimento das instituições escolares
e pelo incremento da indústria de brinquedos, além da influência da mídia
televisiva e a inclusão da mulher no mercado profissional.
2 JOGO,
BRINCADEIRA, BRINQUEDO E BRINCAR
Embora
tudo se pareça, cada uma dessas palavras tem sua conotação e uma definição
distinta, Friedmann (2006, p.17) as coloca da seguinte maneira:
·
JOGO – Designa
tanto uma atitude quanto uma atividade estruturada que envolve regras.
·
BRINCADEIRA –
Refere-se basicamente à ação de brincar, ao comportamento espontâneo que
resulta de uma atividade não-estruturada.
·
BRINQUEDO – Define
o objeto de brincar, suporte para a brincadeira.
·
BRINCAR - Diz
respeito à ação lúdica, seja brincadeira, jogo, uso de brinquedos ou outros
objetos, do corpo, da música, da arte, das palavras etc.
Em cada enfoque, há várias formas de classificar o
brincar. No estudo do jogo, da brincadeira ou do brinquedo, podemos observar o
comportamento das crianças, suas características de sociabilidade, suas
atitudes, reações e emoções. Ao passar para uma interpretação dos dados
observados, surgem diferentes perspectivas de análise do comportamento de
brincar: afetivas, cognitivas, sociais, morais, culturais, lingüísticas etc.
De acordo
com Friedmann (2006), podemos analisar o brincar sob vários enfoques:
·
Sociológico – a
influência do contexto social em que os diferentes grupos de crianças brincam;
·
Educacional – a
construção do brincar para a educação, desenvolvimento ou aprendizagem da
criança;
·
Psicológico – o
brincar como meio para compreender melhor o funcionamento da psique, das
emoções e da personalidade dos indivíduos, (exemplo a ludoterapia);
·
Antropológico – a
maneira como o brincar reflete, em cada sociedade, os costumes e a história das
diferentes culturas;
·
Folclórico – o
brincar como expressão da cultura infantil através das diversas gerações, bem
como as tradições e os costumes nelas refletidos através dos tempos.
2.1 JOGO
O jogo tem origem no termo latino jocus, que
significa "gracejo, graça, pilhéria, escárnio, zombaria". Em latim,
essa é a palavra originalmente reservada para as brincadeiras verbais: piadas,
enigmas, charadas etc. (Friedmann, 2006, p.41).
Sabe-se que os jogos e as competições sempre
despertaram interesse ao ser humano seja por esporte ou diversão. A educação
lúdica esteve presente em todas as épocas, povos e contextos de inúmeros
pesquisadores, formando hoje, uma vasta rede de conhecimentos não só no campo
da educação, da psicologia, fisiologia, como nas demais áreas do conhecimento.
O jogo, para Kishimoto, (1994, p.16) pode ser visto
como "o resultado de um sistema lingüístico que funciona dentro de um
contexto social; um sistema de regras; e um objeto". Esses três aspectos
permitem a compreensão do jogo, diferenciando significados atribuídos por
culturas diferentes, pelas regras e objetos que o caracterizam.
Podemos definir como jogos, atividades lúdicas de:
faz-de-conta, jogos simbólicos, motores, sensórios-motores, intelectuais ou
cognitivos, jogos individuais ou coletivos, metafóricos, verbais, de palavras,
políticos, de adultos, de crianças, de animas, de salão e uma infinidade de
outros mostrando a multiplicidade de fenômenos incluídos na categoria ‘jogo'
sendo que cada um joga à sua maneira, pois tais jogos, embora recebam a mesma
denominação, cada um têm suas especificidades, suas regras, dentro do contexto
social e cultural em que estão inseridos. (KISHIMOTO, 2003)
Nas escolas, porém, é muito comum ouvirmos
educadores dizerem que "os jogos não servem para nada e não têm
significação alguma dentro das escolas, a não ser nas aulas de educação
física". Tal opinião está muito ligada a pressupostos da pedagogia tradicional,
que exclui o lúdico de qualquer atividade séria ou formal como observado nas
escolas participantes da pesquisa.
De acordo com Kishimoto (1994) o jogo, vincula-se
ao sonho, à imaginação, ao pensamento e ao símbolo. A concepção de Kishimoto
sobre o homem como ser simbólico, que se constrói coletivamente e cuja
capacidade de pensar está ligada à capacidade de sonhar, imaginar e jogar com a
realidade é fundamental para propor uma nova "pedagogia da criança".
Kishimoto vê o jogar como gênese da "metáfora" humana. Ou, talvez,
aquilo que nos torna realmente humanos.
2.2 BRINCADEIRA
"Brincadeira é o ato ou efeito de brincar.
Etimologicamente, "Brincando + eria": significa divertimento,
passatempo, distração". (Friedmann, 2006, p.42)
A brincadeira é a mais pura, a mais espiritual
atividade do homem e, ao mesmo tempo, típica da vida humana como um todo – da
vida natural interior escondida no homem e em todas as coisas. Por isso ela dá
alegria, liberdade, contentamento, descanso interno e externo, paz com o mundo.
Ela tem a fonte de tudo o que é bom. (...) Não é a expressão mais bela da vida,
uma criança brincando? (...) A brincadeira não é trivial, ela é altamente séria
e de profunda significância. Cultive-a e crie-a, oh, mãe; proteja-a e guarde-a,
oh, pai! Para uma visão calma e agradável daquele que realmente conhece a
Natureza Humana, a brincadeira espontânea da criança revela o futuro da vida
interior do homem. As brincadeiras da criança são as folhas germinais de toda a
vida futura; pois o homem todo é desenvolvido e mostrado nela, em suas
disposições mais carinhosas, em suas tendências mais interiores. (Friedrich
Froebel)
A brincadeira é uma atividade inerente ao homem.
Durante a infância, ela desempenha um papel fundamental na formação e no
desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança. Naturalmente
curiosa, a criança se sente atraída pelo ambiente que a rodeia, cada pequena
atividade é para ela uma possibilidade de aprender e pode se tornar uma
brincadeira. Onde quer que a criança esteja o lúdico está sempre presente para
que desse modo ela descubra o mundo à sua volta e aprenda a interagir com ele.
Froebel foi o primeiro educador a enfatizar a
importância do brinquedo e do lúdico na educação infantil, "a brincadeira
não é trivial, ela é altamente séria e de profunda significância". Zatz
apud Froebel (2006, p.15). A criança leva sua brincadeira muito a sério, e é
importante que o adulto a respeite nesse sentido. Quantas vezes não nos
deparamos com respostas: "Agora não posso, estou brincando!" Ela
considera que está ocupada quando está brincando, e merece toda a nossa
consideração. Jamais deve-se interromper a
concentração de uma criança nesse momento tão precioso e mágico.
Outro ponto importante e que não devemos deixar de
mencionar é que quando a criança brinca de faz-de-conta e tenta reproduzir
situações do dia-a-dia, ou mesmo nas atividades escolares, por mais que se
tenha vontade de interferir ou mesmo ajudá-la mostrando como manipular os
utensílios ou como organizar a brincadeira, é importante deixar que ela a faça
do seu jeito, precisamos conter nossos impulsos. Não é o momento de limitar, e
sim de encorajá-la, deixando que ela use a sua criatividade e imaginação, para
que possa dizer: eu consegui sozinha!
2.3. BRINQUEDO
A história do brinquedo é tão antiga quanto a
história do homem. Estudiosos do assunto dizem até que os brinquedos podem
contar a história do próprio homem e sua evolução social, cultural e até
política.
Muitos brinquedos por nós conhecidos hoje têm sua
origem nas mais antigas civilizações. E alguns deles se apresentam em versões
praticamente inalteradas, se considerarmos a distância temporal e cultural que
nos separa deles.
Alguns exemplos valem ser citados, é o caso das
bonecas, elas foram construídas, possivelmente há quarenta mil anos, na Ásia e
na África, eram usadas em rituais. Acredita-se ter sido no Egito, há cerca de
dois mil anos, que elas se transformaram em brinquedo, feitos de corda, pano e
papel. Outros exemplos são os piões, que apareceram por volta do ano 3000 a.C.
na Babilônia, as pipas apareceram na China no ano 1000 a.C. Outros mais
recentes são os soldadinhos de chumbo, que nasceram no século XVIII como peças
de jogos de guerra, praticados por reis famosos como o francês Luís IX. (Zatz,
2007 p.19).
De acordo com Zatz, (2007), "a presença do
brinquedo no universo material das crianças de hoje é notável". Essa
presença tão marcante dos brinquedos tem uma importância no mundo da criança
que devemos reconhecer e respeitar. Entretanto, o lúdico não se restringe ao
momento de interação com o brinquedo. Nem tão pouco há necessidade efetiva de a
criança ter nas mãos um brinquedo para que possa brincar. Além do brinquedo
como objeto específico, a noção de educação, num sentido mais amplo, pode
envolver toda a rotina da criança. O lúdico está sempre presente, no que quer
que ela esteja fazendo. O aprendizado e o desenvolvimento da sensibilidade
podem ser estimulados no dia-a-dia, se os pais estiverem atentos e disponíveis
para seus filhos.
A criança pequena tem uma necessidade muito grande
de satisfazer os seus desejos imediatamente. É exatamente neste ponto que atuam
os brinquedos, justamente para que a criança possa experimentar tendências
irrealizáveis. O mundo dos brinquedos representa o ilusório e o imaginário,
onde seus desejos podem ser realizados. (Lev Vygotsky).
Como já vimos, o ato de brincar é fundamental para
a formação física, emocional e intelectual da criança. E os brinquedos são
ferramentas que podemos oferecer aos nossos alunos para ajudá-los a se
desenvolver de maneira mais saudável. Buscar o brinquedo ideal é um conceito
que não existe. Cada brinquedo pode estimular determinadas qualidades e
habilidades da criança, porém, não podemos esquecer que as fases do
desenvolvimento podem tomar tempos diferentes da mesma. Se a criança
apresenta alguma dificuldade com os brinquedos da idade apontada, não se deve
hesitar em priorizar a criança e não o rótulo. Pois cada criança é única.
(Zatz, 2007, p.30).
É uma verdade que o brinquedo é apenas o suporte do
jogo, do brincar, e que é possível brincar com a imaginação. Mas é verdade
também que sem brinquedo e muito mais difícil realizar a atividade lúdica.
(...) Se a criança gosta de brincar, gosta também de brinquedo. Porque as duas
coisas estão intrinsecamente ligadas. (Vital Didonet)
2.4 BRINCAR
No brincar, casam-se a espontaneidade e a
criatividade com a progressiva aceitação das regras sociais e morais. Assim
como molda a cultura contextualizada no tempo e no espaço, o brincar dela deriva.
Não sendo uma prerrogativa humana, mas muito mais amplo e precoce, o lúdico
afirma suas raízes em sociedades animais constituindo-se, não apenas como uma
preparação à vida adulta, mas como uma atividade que contém sua finalidade em
si mesma, que é buscada no e para o momento vivido. (OLIVEIRA, 2008)
Para Oliveira (2008, p.7), "é brincando que a
criança elabora progressivamente o luto pela perda relativa dos cuidados
maternos, assim como encontra forças e descobre estratégias para enfrentar o
desafio de andar com as próprias pernas e pensar aos poucos com a própria
cabeça, assumindo a responsabilidade pelos seus atos". Segundo ele,
pais e educadores que respeitam a necessidade da criança de brincar estarão
construindo, portanto, os alicerces de uma adolescência mais tranqüila ao criar
condições de expressão e comunicação dos próprios sentimentos e visão de mundo.
Segundo
Oliveira (2008, p.15), "ao analisarmos o brincar da criança, do nascimento
aos seis anos, percebemos uma significação especial para a psicologia do
desenvolvimento e para a educação, em suas múltiplas ramificações e
imbricações, uma vez que":
·
é
condição de todo o processo evolutivo neuropsicológico saudável que alicerça
neste começo;
·
manifesta
a forma como a criança está organizando sua realidade e lidando com suas
possibilidades, limitações e conflitos, já que, muitas vezes, ela não sabe, ou
não pode, falar a respeito deles;
·
introduz
a criança de formar gradativa, prazerosa e eficiente ao universo
sócio-histórico-cultural;
·
abre
caminhos e embasa o processo de ensino/aprendizagem favorecendo a construção da
reflexão, da autonomia e da criatividade.
A criança, ao brincar, aprende que não basta ter
uma idéia nova e divertida, mas que é preciso, para pô-la em prática, convencer
o grupo de que vale a pena, argumentando. Portanto, reforça a habilidade de
negociação fazendo com que a criança descubra a importância de saber escutar,
inclusive para fazer-se ouvir. Aprende assim, a pensar em equipe, a discutir
sem se alterar, a ouvir críticas, modificar seus planos sem se sentir excluído
ou perseguido.
3
ESTUDIOSOS DO BRINCAR
Ao longo da história da humanidade, foram inúmeros
os autores que se interessaram, direta ou indiretamente, pela questão da
brincadeira, do jogo, do brincar e do brinquedo. Friedmann (2006) enumera
alguns dos principais estudiosos e a área em que desenvolveram seus trabalhos
sobre o tema.
Historiadores: Huizinga, Caillois, Ariès, Margolim Jolibert
(estudo do brincar a partir da imagem que cada contexto forma da criança),
Manson.
Filósofos: Aristóteles, Platão, Schiller, Dewey, Spencer (o
brincar como possibilidade de eliminar o excesso de energia represado na
criança), Gross ("o jogo prepara a criança para a vida futura"),
Stanley-Hall.
Linguistas: Vazden, Vygotsky, Weir.
Antropólogos: Bateson, Schwartzman, Sutton-Smith, Henriot,
Brougère (conceitos sobre o jogo de acordo com o uso que se faz dele).
Escritores: Todos os escritores que relataram lembranças da
infância de forma autobiográfica ou poética. Dentre eles, Cecília Meireles,
Fernando Pessoa e Manoel de Barros.
Psicólogos: Bruner, Jolly e Sylva, Frein, Freud, Claparède,
Erickson, Winnicott (o brincar como elemento fundamental para o equilibrio
emocional da criança), Susan Isaacs, Melanie Klein, Piaget, Wallon, Vygotsky,
Elkonin.
Educadores: Chateau, Vial, Alain (a importância do brincar
infantil como recurso para educar e desenvolver a criança, desde que
respeitadas as características da atividade lúdica), Rousseau, Dewey, Froebel.
Biólogo: Maturana.
Estudiosos da natureza do brincar: Huizinga (1951), Caillois
(1967), Christie (1991), Fromberg (1987), Henriot (1989). Liberdade de ação do
jogador ou o caráter voluntário e episódio da ação lúdica; o prazer (ou
desprazer); a relevância do processo de brincar – o caráter improdutivo; a
incerteza de seus resultados; a não-literalidade ou a representação da
realidade; a imaginação e a contextualização no tempo e no espaço.
3.1 IDÉIAS E DEFINIÇÕES SOBRE O
BRINCAR ATRAVÉS DOS TEMPOS
A seguir algumas definições sobre o lúdico. São definições
bastante interessantes, uma vez que se encontram ao longo da história da
humanidade e expressam as idéias de alguns importantes pensadores a respeito do
brincar. Podemos perceber que o brincar é mesmo uma atividade muito antiga,
porém necessária para resgatarmos nossas crianças.
" A recreação é descanso do espírito" (Aristóteles,
344 a.C.)
"Importância de aprender brincando, em
oposição à utilização da violência e da repressão." (Platão, 420 a.C.)
"O estudo do jogo pode fornecer-nos
ensinamentos preciosos para a arte de inventar." (Pascal, 1653)
"Os jogos da criança são o insubstituível
lugar de uma auto-aprendizagem por si mesma, em que vemos que se trata de uma
cultura livre... Por meio do jogo, a criança aprende a coagir a si mesma, a se
investir de uma atividade duradoura, a conhecer e a desenvolver as forças do
seu corpo." (Kant, 1787)
"Um homem somente brinca quando ele é humano
no sentido amplo da palavra, e ele somente é humano no sentido da palavra
quando ele brinca." (Friederich Schiller, 1787)
"O jogo é um remédio e um repouso que se dá ao
espiríto para relaxá-lo, restabelecer suas forças, junto com as do
corpo..." (Nicolas Delamare, século XVIII)
"O jogo resulta em benefícios intelectuais,
morais e físicos e o erige[1] como elemento importante no desenvolvimento
integral da criança. Os brinquedos são atividades imitativas, livre, e os
jogos, atividades livres com o emprego dos dons." (Froebel, 1912).
"...A brincadeira é a atividade espiritual
mais pura do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica da vida humana
enquanto um todo... Ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso externo
e interno, paz com o mundo... O Brincar em qualquer tempo não é trivial, é
altamente sério e de profunda significação." (Froebel, 1912)
"Por que você pergunta sobre o significado do
brincar ? /Quando é o que eu penso e faço a cada dia, /'Brincar' é fazer o que
minha natureza deseja. / ‘Trabalhar' é fazer o que minhas aptidões
conseguem." (C. Chester, 14 anos, 1915)
"Brincando, as crianças observam mais
atentamente e deste modo fixam na memória e em hábitos muito mais do que se
elas simplesmente vivessem indiferentemente todo o colorido da vida ao
redor." (Dewey, 1924)
"A fonte da atividade lúdica é a mesma da ação
criadora, que reside, sempre, na inadaptação, fonte de necessidades, anseios e
desejos." (Vygotsky, 1933)
"Há incerteza em toda conduta lúdica: nunca se
tem conhecimento prévio da ação do jogador." (Caillois, 1958-1967)
"Toda a atividade da criança é lúdica, no
sentido de que se exerce por si mesma." (Piaget, 1964)
"O jogo é uma atividade espontânea oposta à
atividade do trabalho." (Piaget, 1964)
"É uma atividade que dá prazer..." (Piaget,
1964)
"Caracteríza-se por um comportamento livre de
conflitos." (Piaget, 1964)
"Se brincar é essencial é porque é brincando
que o paciente se mostra criativo." (Winnicott, 1975)
"O jogo infantil era uma questão de
sobrevivência... O jogo tinha um potencial muito pequeno para modelar ou
alterar a vida... A capacidade de fugir da realidade através do jogo... não
poderia ser mais do que um mito. Mas era um mito maravilhoso – criava uma
ambiguidade moral, mostrando as coisas como se poderia pensar que deveriam ser,
não como eram... No holocausto...o jogo...tornou-se uma forma instintiva para
compreender o absurdo e para ajustar o irracional...o jogo infantil é um
reflexo da humanidade... a humanidade e a inumanidade estão refletidas nas
crianças." (George Eisen, 1988)
"Brincar é uma atividade realizada como
plenamente válida em si mesma. Brincadeira é... qualquer atividade vivida no
presente de sua realização e desempenhada de modo emocional, sem propósito que
lhe seja exterior." (Maturana, 1993)
"Viver no brincar é viver nossa relação
biológica sem tentar controlá-la pela instrumentalização de nossas ações e
relações. É viver sem confundir o fazer com intenções que levem a atenção para
além da ação." (Maturana, 1993)
"O brincar é compreendido como espaço de
elaboração considerado como um laboratório do pensamento infantil constituído
por uma linguagem simbólica singular apoiada em brinquedos, objetos de uso
cotidiano, materiais de construção e baseada em regras que estejam diretamente
associadas à infância." (Referenciais Curriculares Nacionais, 1998)
"O brincar traz de volta a alma da nossa
criança: no ato de brincar, o ser humano se mostra na sua essência, sem
sabê-lo, de forma inconsciente. O brincante troca, socializa, coopera e
compete, ganha e perde. Emociona-se, grita, chora, ri, perda a paciência, fica
ansioso, aliviado. Erra, acerta. Põe em jogo seu corpo inteiro: suas habilidade
motoras e de movimento vêem-se desafiadas. No brincar, o ser humano imita,
medita, sonha, imagina. Seus desejos e seus medos transformam-se, naquele segundo,
em realidade. O brincar descortina um mundo possível e imaginário para os
brincantes. O brincar convida a ser eu mesmo." (Friedmann, 1998)
"...Para o adulto o brincar é saudade ou a
recuperação daquela criança que fomos um dia... O brincar é um jogar com
idéias, sentimentos, pessoas, situações e objetos... O jogo é uma brincadeira
que evoluiu. A brincadeira é o que será do jogo, é sua antecipação, sua
condição primordial. A brincadeira é uma necessidade da criança; o jogo, uma de
suas possibilidades à medida que nos tornamos mais velhos." (Lino
de Macedo, 2005)
4 O
BRINCAR NA ESCOLA, UMA INVESTIGAÇÃO NECESSÁRIA
Definido o tema e com as questões construídas,
parto para a construção de novos entendimentos e formas de aproximação entre a
realidade e minhas dúvidas. Abaixo relaciono as perguntas que compuseram minha
pesquisa.
O que é
brincar?
Qual é a
importância desta atividade para o desenvolvimento infantil e por quê?
Quais as
formas utilizadas para estimular o brincar das crianças?
Como é a
rotina do brincar das crianças: onde, duração, com quem, tipos de brincadeira,
objetos utilizados?
Qual a
relevância do brincar na escola?
A importância do brincar no desenvolvimento da
criança em seu processo de aprendizagem e socialização é há muito tempo a
preocupação de muitos pensadores e educadores. Porém, percebi em minhas
pesquisas, que a brincadeira não faz parte do projeto pedagógico da maioria das
escolas e da ação dos professores entrevistados. Esta constatação despertou
interesse e me levou a aprofundar-me nesta temática para melhor compreendê-la e
descobrir como a brincadeira pode ajudar o professor em seu fazer pedagógico.
Em trabalho de campo, entrevistando professoras da
educação infantil da rede particular e privada, descobri que, embora a criança
que brinca constrói-se como ser único e criativo, vejo que a prática pedagógica
da maioria das professoras atuantes nas escolas públicas da cidade de Alvorada
no Rio Grande do Sul ainda é desprovida de conhecimentos aprofundados sobre o significado
e a importância dessa atividade para o desenvolvimento intelectual das crianças
que estão sob sua responsabilidade. O mesmo não ocorre nas escolas privadas.
Na escola pública pude observar que, para o
professor, na hora do recreio ou aula de educação física, é um momento de
folga, ele autoriza brincadeiras livres e acredita que as crianças estão
usufruindo de um momento de pura diversão, livre e prazerosa. Não podemos
culpar apenas os professores, ouvimos freqüentemente comentários de pais, avós
ou familiares que: "as crianças não estão fazendo nada, só brincando"
e enquanto brincam, queimam energias ou se mantém ocupadas. Já na escola
privada, o professor interage de maneira participativa e avaliativa. As
atividades são dirigidas e orientadas. O tempo de brincar é respeitado e bem
aproveitado por todos.
5 A
IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Cada vez mais cedo as crianças estão ingressando no
ambiente escolar, fazendo com que percam boa parte de sua infância, e a
infância se caracteriza pelo brincar. É através do brincar que a criança
constrói sua aprendizagem acerca do mundo em que vive. Brincar livremente,
correr, trabalhar suas potencialidades, é brincando que a criança fantasia,
aceita desafios e melhora o seu relacionamento com o grupo em que esta
inserida.
Cabe à escola disponibilizar momentos lúdicos a
criança, pois a escola ainda é um espaço seguro onde as crianças podem brincar
e correr a vontade. Outro aspecto importante é que as crianças se relacionam
com outras da mesma idade, mas com famílias e histórias bem diferentes, o que
lhes proporciona um excelente laboratório de trocas de experiências.
A organização desse espaço supõe que se tenha uma
percepção positiva da criança, vendo-a como capaz de interagir espontaneamente,
desde que não encontre cerceamento físico ou pessoal à sua liberdade de
movimento, expressão e comunicação.
Nesse sentido, a formação do educador infantil não
se restringe a aspectos intelectuais e cognitivos, mas também aos psicológicos,
com especial atenção aos afetivo-emocionais, já que, quanto menor a criança,
menos consciência tem de si mesma como um ser separado e, conseqüentemente mais
vulnerável e influenciável fica a estados de tensão, frustração, ansiedade,
depressão, etc., por parte quem convive com ela.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil (MEC, 1998) estabeleceu a brincadeira como um de seus princípios
norteadores, que a define como um direito da criança para desenvolver seu
pensamento e capacidade de expressão, além de situá-la em sua cultura.
Atividades de brincadeira na educação infantil são praticadas há muitos anos,
entretanto, torna-se imprescindível que o professor distinga o que é
brincadeira livre e o que é atividade pedagógica. Ao optar por fazer
brincadeiras com a turma, deve considerar que o mais importante é o interesse
da criança por elas; se o objetivo for somente a aprendizagem ou
desenvolvimento de habilidades motoras, poderá trabalhar com atividades
lúdicas, só que não estará promovendo a brincadeira, e sim atividades
pedagógicas de natureza lúdica.
Cabe ao professor a tarefa de estimular as
brincadeiras, ordenar os espaços da escola, facilitar a disposição dos
brinquedos disponíveis, mobiliário, e os demais elementos da sala de aula de
maneira que se torne mais acessível e confortável tanto para ele como para as
crianças. O professor também poderá brincar com as crianças, principalmente se
elas o convidarem. Mas deverá ter o máximo de cuidado respeitando seu ritmo; é
preciso muita sensibilidade, habilidade e bom nível de observação para
participar de forma positiva.
A chave desta intervenção é a observação das
brincadeiras das crianças, o professor deve conhecê-las, conhecer sua cultura,
como e com quê brincam. Melhor seria se aproveitasse este momento para observar
seus alunos, para conhecê-los melhor.
"A esperança de uma criança, ao caminhar para
a escola é encontrar um amigo, um guia, um animador, um líder - alguém muito
consciente e que se preocupe com ela e que a faça pensar, tomar consciência de
si e do mundo e que seja capaz de dar-lhe as mãos para construir com ela uma
nova história e uma sociedade melhor". (ALMEIDA,1987, p.195)
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao possibilitarmos à criança o acesso às
brincadeiras e ao brincar, oferecemos a ela uma melhor qualidade de vida.
Brincando ela expande uma grande quantidade de emoções, pela variedade de
brincadeiras que vivencia, organiza melhor o seu mundo interior. E o mais
importante, através do brincar acaba aprendendo de forma prazerosa,
transformando um simples conhecimento em uma aprendizagem significativa.
A utilização dos jogos e das brincadeiras, do
brincar como um meio educacional é um avanço para a Educação Infantil. Tomar
consciência disto requer mudanças, o que nos leva a resgatar nossas vivências
pessoais para incorporar o lúdico em nosso trabalho. Ainda há muito a ser
aprendido e questionado, pois, o lúdico oferece condições de sociabilidade,
levando a criança a se organizar mutuamente nas ações e intensificando a
comunicação e a cooperação. Permite ainda, a descoberta do ‘outro' e isso
repercute sobre a descoberta de si mesmo.
Diante de todas as questões expostas neste
trabalho, evidencia-se que as atividades lúdicas, na escola possibilitam que
sejam alcançados os objetivos educacionais que norteiam o trabalho pedagógico,
como já foi comprovado por muitos pesquisadores e estudiosos, e que as
experiências adquiridas pelas crianças nos seus primeiros anos de vida, são
fundamentais para o seu desenvolvimento em todos os aspectos. Neste sentido, a
educação infantil pode formar crianças que irão para a etapa de alfabetização,
autônomas, críticas, criativas, ou ao contrário, dependentes, estereotipadas,
com aversão ao trabalho escolar.
Assim, espera-se que esta investigação possa servir
de incentivo aos educadores que não utilizam o lúdico no processo de
ensino-aprendizagem, uma vez que se demonstrou a importância dos jogos e
brincadeiras para o desenvolvimento de crianças na Educação Infantil
Espero desta maneira,
ter contribuído no sentido de alertar para a importância da inserção das
atividades lúdicas, no contexto escolar, e que estas não sejam deixadas em um
segundo plano, ou apenas no período do recreio. Desejo, ainda, que este estudo
possa servir de incentivo para os professores inovarem suas práticas, e que a
partir de agora tenham, nos jogos e brincadeiras, aliados permanentes,
possibilitando às crianças uma forma de desenvolver as suas habilidades
intelectuais, sociais e físicas, de forma prazerosa e participativa, uma vez
que os jogos e brincadeiras são de grande contribuição para o processo de
ensino e aprendizagem e não devem jamais ficar fora desse contexto.
Como relatei ao longo
deste trabalho, acredito que a utilização dos jogos, brincadeiras e brinquedos
na educação infantil ainda é, sem dúvida, um tema inesgotável. Novas opções têm
se mostrado aos educadores, opções de aliados que vêm se integrando a esse
mundo encantado que é a educação infantil. Novas profissões têm surgido na área
do lúdico como, por exemplo, a de "brinquedista" e até mesmo os
"doutores da alegria" que salvam vidas nos hospitais por onde andam.
Creio que este seja um tema para uma nova pesquisa!
REFERÊNCIAS
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[1]
Erige, v. t. Erguer; construir; instituir; levantar
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