Por: Eline
“O desenvolvimento
de interesses e hábitos permanentes de leitura é um processo constante, que
principia no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e continua pela vida
afora.”
Bamberger
Reconhecer a importância da literatura infantil e
incentivar a formação do hábito de leitura na idade em que todos os hábitos se
formam, isto é, na infância, é o que este artigo vem propor. Neste sentido, a
literatura infantil é um caminho que leva a criança a desenvolver a imaginação,
emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa. O presente estudo
inicia com um breve histórico da literatura infantil, apresenta conceitos de
linguagem e leitura, enfoca a importância de ouvir histórias e do contato da
criança desde cedo com o livro e finalmente esboça algumas estratégias para
desenvolver o hábito de ler.
Palavras-chave: Educação,
Literatura Infantil, Leitura, Desenvolvimento da criança.
Introdução
O estudo realizado tem por objetivo, verificar a
contribuição da literatura infantil no desenvolvimento social, emocional e
cognitivo da criança. Ao longo dos anos, a educação preocupa-se em contribuir
para a formação de um indivíduo crítico, responsável e atuante na sociedade.
Isso porque se vive em uma sociedade onde as trocas sociais acontecem
rapidamente, seja através da leitura, da escrita, da linguagem oral ou visual.
Diante disso, a escola busca conhecer e
desenvolver na criança as competências da leitura e da escrita e como a
literatura infantil pode influenciar de maneira positiva neste processo. Assim,
Bakhtin (1992) expressa sobre a literatura infantil abordando que por ser um
instrumento motivador e desafiador, ela é capaz de transformar o indivíduo em
um sujeito ativo, responsável pela sua aprendizagem , que sabe compreender o
contexto em que vive e modificá-lo de acordo com a sua necessidade.
Esta pesquisa visa a enfocar toda a importância
que a literatura infantil possui, ou seja, que ela é fundamental para a
aquisição de conhecimentos, recreação, informação e interação necessários ao
ato de ler. De acordo com as idéias acima, percebe-se a necessidade da
aplicação coerente de atividades que despertem o prazer de ler, e estas devem
estar presentes diariamente na vida das crianças, desde bebês. Conforme Silva
(1992, p.57) “bons livros poderão ser presentes e grandes fontes de prazer e
conhecimento. Descobrir estes sentimentos desde bebezinhos, poderá ser uma
excelente conquista para toda a vida.”
Apesar da grande importância que a literatura
exerce na vida da criança, seja no desenvolvimento emocional ou na capacidade
de expressar melhor suas idéias, em geral, de acordo com Machado (2001), elas
não gostam de ler e fazem-no por obrigação. Mas afinal, por que isso acontece?
Talvez seja pela falta de exemplo dos pais ou dos professores, talvez não.
O que se percebe é que a literatura, bem como
toda a cultura criadora e questionadora, não está sendo explorada como deve nas
escolas e isto ocorre em grande parte, pela pouca informação dos professores. A
formação acadêmica, infelizmente não dá ênfase à leitura e esta é uma situação
contraditória, pois segundo comentário de Machado (2001, p.45) “não se contrata
um instrutor de natação que não sabe nadar, no entanto, as salas de aula
brasileira estão repletas de pessoas que apesar de não ler, tentam ensinar”.
Existem dois fatores que contribuem para que a
criança desperte o gosto pela leitura: curiosidade e exemplo. Neste sentido, o
livro deveria ter a importância de uma televisão dentro do lar. Os pais
deveriam ler mais para os filhos e para si próprios. No entanto, de acordo com
a UNESCO (2005) somente 14% da população tem o hábito de ler, portanto, pode-se
afirmar que a sociedade brasileira não é leitora. Nesta perspectiva, cabe a
escola desenvolver na criança o hábito de ler por prazer, não por obrigação.
Contextualizando Literatura Infantil
Os primeiros livros direcionados ao público
infantil, surgiram no século XVIII. Autores como La Fontaine e Charles
Perrault escreviam suas obras, enfocando principalmente os contos de fadas. De
lá pra cá, a literatura infantil foi ocupando seu espaço e apresentando sua
relevância. Com isto, muitos autores foram surgindo, como Hans Christian
Andersen, os irmãos Grimm e Monteiro Lobato, imortalizados pela grandiosidade
de suas obras. Nesta época, a literatura infantil era tida como mercadoria,
principalmente para a sociedade aristocrática. Com o passar do tempo, a
sociedade cresceu e modernizou-se por meio da industrialização, expandindo
assim, a produção de livros.
A partir daí os laços entre a escola e literatura
começam a se estreitar, pois para adquirir livros era preciso que as crianças
dominassem a língua escrita e cabia a escola desenvolver esta capacidade. De
acordo com Lajolo & Zilbermann, “a escola passa a habilitar as crianças
para o consumo das obras impressas, servindo como intermediária entre a criança
e a sociedade de consumo”. (2002, p.25)
Assim, surge outro enfoque relevante para a
literatura infantil, que se tratava na verdade de uma literatura produzida para
adultos e aproveitada para a criança. Seu aspecto didático-pedagógico de grande
importância baseava-se numa linha moralista, paternalista, centrada numa
representação de poder. Era, portanto, uma literatura para estimular a
obediência, segundo a igreja, o governo ou ao senhor. Uma literatura
intencional, cujas histórias acabavam sempre premiando o bom e castigando o que
é considerado mau. Segue à risca os preceitos religiosos e considera a criança
um ser a se moldar de acordo com o desejo dos que a educam, podando-lhe
aptidões e expectativas.
Até as duas primeiras décadas do século XX, as
obras didáticas produzidas para a infância, apresentavam um caráter
ético-didático, ou seja, o livro tinha a finalidade única de educar, apresentar
modelos, moldar a criança de acordo com as expectativas dos adultos. A obra
dificilmente tinha o objetivo de tornar a leitura como fonte de prazer,
retratando a aventura pela aventura. Havia poucas histórias que falavam da vida
de forma lúdica, ou que faziam pequenas viagens em torno do cotidiano, ou a
afirmação da amizade centrada no companheirismo, no amigo da vizinhança, da
escola, da vida.
Essa visão de mundo maniqueísta, calçada no
interesse do sistema, passa a ser substituída por volta dos anos 70 e a
literatura infantil passa por uma revalorização, contribuída em grande parte
pelas obras de Monteiro Lobato, no que se refere ao Brasil. Ela então, se
ramifica por todos os caminhos da atividade humana, valorizando a aventura, o
cotidiano, a família, a escola, o esporte, as brincadeiras, as minorias
raciais, penetrando até no campo da política e suas implicações.
Hoje a dimensão de literatura infantil é muito
mais ampla e importante. Ela proporciona à criança um desenvolvimento emocional,
social e cognitivo indiscutíveis. Segundo Abramovich (1997) quando as crianças
ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara, sentimentos que têm
em relação ao mundo. As histórias trabalham problemas existenciais típicos da
infância, como medos, sentimentos de inveja e de carinho, curiosidade, dor,
perda, além de ensinarem infinitos assuntos.
É através de uma
história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de
agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica...É ficar sabendo
história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. sem
precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula
(ABRAMOVICH, 1997, p.17)
Neste sentido, quanto mais cedo a criança tiver
contato com os livros e perceber o prazer que a leitura produz, maior será a
probabilidade dela tornar-se um adulto leitor. Da mesma forma através da
leitura a criança adquire uma postura crítico-reflexiva,extremamente relevante
à sua formação cognitiva.
Quando a criança ouve ou lê uma história e é
capaz de comentar, indagar, duvidar ou discutir sobre ela, realiza uma
interação verbal, que neste caso, vem ao encontro das noções de linguagem de
Bakhtin (1992). Para ele, o confrontamento de idéias, de pensamentos em relação
aos textos, tem sempre um caráter coletivo, social.
O conhecimento é adquirido na interlocução, o
qual evolui por meio do confronto, da contrariedade. Assim, a linguagem segundo
Bakthin (1992) é constitutiva, isto é, o sujeito constrói o seu pensamento, a
partir do pensamento do outro, portanto, uma linguagem dialógica.
A vida é dialógica
por natureza. Viver significa participar de um diálogo: interrogar, escutar,
responder, concordar, etc. Neste diálogo, o homem participa todo e com toda a
sua vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, com o corpo
todo, com as suas ações. Ele se põe todo na palavra e esta palavra entra no
tecido dialógico da existência humana, no simpósio universal. (BAKHTIN, 1992,
p112)
E é partindo desta visão da interação social e do
diálogo, que se pretende compreender a relevância da literatura infantil, que
segundo afirma Coelho (2001, p.17), “é um fenômeno de linguagem resultante de
uma experiência existencial, social e cultural.”
A leitura é um processo no qual o leitor realiza
um trabalho ativo de construção do significado do texto. Segundo Coelho (2002)
a leitura, no sentido de compreensão do mundo é condição básica do ser humano.
A compreensão e sentido daquilo que o cerca
inicia-se quando bebê, nos primeiros contatos com o mundo. Os sons, os odores,
o toque, o paladar, de acordo com Martins (1994) são os primeiros passos para
aprender a ler.Ler, no entanto é uma atividade que implica não somente a
decodificação de símbolos, ela envolve uma série de estratégias que permite o
indivíduo compreender o que lê. Neste sentido, relata os PCN’s (2001, p.54.):
Um leitor
competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de selecionar, dentre
os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade
sua. Que consegue utilizar estratégias de leitura adequada para abordá-los de
forma a atender a essa necessidade.
Assim, pode-se observar que a capacidade para
aprender está ligada ao contexto pessoal do indivíduo. Desta forma, Lajolo
(2002) afirma que cada leitor, entrelaça o significado pessoal de suas leituras
de mundo, com os vários significados que ele encontrou ao longo da história de
um livro, por exemplo.
O ato de ler então, não representa apenas a
decodificação, já que esta não está imediatamente ligada a uma experiência,
fantasia ou necessidade do indivíduo. De acordo com os PCN’s (2001) a
decodificação é apenas uma, das várias etapas de desenvolvimento da leitura. A
compreensão das idéias percebidas, a interpretação e a avaliação são as outras
etapas que segundo Bamberguerd (2003, p.23) “fundem-se no ato da leitura”.
Desta forma, trabalhar com a diversidade textual, segundo os PCN’s (2001),
fazendo com que o indivíduo desenvolva significativamente as etapas de leitura
é contribuir para a formação de leitores competentes.
A importância de ouvir histórias
Ouvir histórias é um acontecimento tão prazeroso
que desperta o interesse das pessoas em todas as idades. Se os adultos adoram
ouvir uma boa história, um “bom causo”, a criança é capaz de se interessar e
gostar ainda mais por elas, já que sua capacidade de imaginar é mais intensa.
A narrativa faz parte da vida da criança desde
quando bebê, através da voz amada, dos acalantos e das canções de ninar, que
mais tarde vão dando lugar às cantigas de roda, a narrativas curtas sobre
crianças, animais ou natureza. Aqui, crianças bem pequenas, já demonstram seu
interesse pelas histórias, batendo palmas, sorrindo, sentindo medo ou imitando
algum personagem. Neste sentido, é fundamental para a formação da criança que
ela ouça muitas histórias desde a mais tenra idade.
O primeiro contato da criança com um texto é
realizado oralmente, quando o pai, a mãe, os avós ou outra pessoa conta-lhe os
mais diversos tipos de histórias. A preferida, nesta fase, é a história da sua
vida. A criança adora ouvir como foi que ela nasceu, ou fatos que aconteceram
com ela ou com pessoas da sua família. À medida que cresce, já é capaz de
escolher a história que quer ouvir, ou a parte da história que mais lhe agrada.
É nesta fase, que as histórias vão tornando-se aos poucos mais extensas, mais
detalhadas.
A criança passa a interagir com as histórias,
acrescenta detalhes, personagens ou lembra de fatos que passaram despercebidos
pelo contador. Essas histórias reais são fundamentais para que a criança
estabeleça a sua identidade, compreender melhor as relações familiares. Outro
fato relevante é o vínculo afetivo que se estabelece entre o contador das
histórias e a criança. Contar e ouvir uma história aconchegado a quem se ama é
compartilhar uma experiência gostosa, na descoberta do mundo das histórias e
dos livros.
Algum tempo depois, as crianças passam a se
interessar por histórias inventadas e pelas histórias dos livros, como: contos
de fadas ou contos maravilhosos, poemas, ficção, etc. Têm nesta perspectiva, a
possibilidade de envolver o real e o imaginário que de acordo com Sandroni
& Machado (1998, p.15) afirmam que “os livros aumentam muito o prazer de
imaginar coisas. A partir de histórias simples, a criança começa a reconhecer e
interpretar sua experiência da vida real”.
É importante contar histórias mesmo para as
crianças que já sabem ler, pois segundo Abramovich (1997, p.23) “quando a
criança sabe ler é diferente sua relação com as histórias, porém, continua
sentindo enorme prazer em ouvi-las”. Quando as crianças maiores ouvem as
histórias, aprimoram a sua capacidade de imaginação, já que ouvi-las pode
estimular o pensar, o desenhar, o escrever, o criar, o recriar. Num mundo hoje
tão cheio de tecnologias, onde as informações estão tão prontas, a criança que
não tiver a oportunidade de suscitar seu imaginário, poderá no futuro, ser um
indivíduo sem criticidade, pouco criativo, sem sensibilidade para compreender a
sua própria realidade.
Portanto, garantir a riqueza da vivência
narrativa desde os primeiros anos de vida da criança contribui para o
desenvolvimento do seu pensamento lógico e também de sua imaginação,que segundo
Vigotsky (1992, p.128) caminham juntos: “a imaginação é um momento totalmente
necessário, inseparável do pensamento realista.”. Neste sentido, o autor enfoca
que na imaginação a direção da consciência tende a se afastar da realidade.
Esse distanciamento da realidade através de uma história por exemplo, é
essencial para uma penetração mais profunda na própria realidade: “afastamento
do aspecto externo aparente da realidade dada imediatamente na percepção
primária possibilita processos cada vez mais complexos, com a ajuda dos quais a
cognição da realidade se complica e se enriquece. (VIGOTSKY, 1992, p.129) ”.
O contato da criança com o livro pode acontecer
muito antes do que os adultos imaginam. Muitos pais acreditam que a criança que
não sabe ler não se interessa por livros, portanto não precisa ter contato com
eles. O que se percebe é bem ao contrário. Segundo Sandroni & Machado
(2000, p.12) “a criança percebe desde muito cedo, que livro é uma coisa boa,
que dá prazer”. As crianças bem pequenas interessam-se pelas cores, formas e
figuras que os livros possuem e que mais tarde, darão significados a elas,
identificando-as e nomeando-as.
É importante que o livro seja tocado pela
criança, folheado, de forma que ela tenha um contato mais íntimo com o objeto
do seu interesse.A partir daí, ela começa a gostar dos livros, percebe que eles
fazem parte de um mundo fascinante, onde a fantasia apresenta-se por meio de
palavras e desenhos. De acordo com Sandroni & Machado (1998, p.16) “o amor
pelos livros não é coisa que apareça de repente”. É preciso ajudar a criança a
descobrir o que eles podem oferecer. Assim, pais e professores têm um papel
fundamental nesta descoberta: serem estimuladores e incentivadores da leitura.
A literatura e os estágios psicológicos
da criança
Durante o seu desenvolvimento, a criança passa
por estágios psicológicos que precisam ser observados e respeitados no momento
da escola de livros para ela. Essas etapas não dependem exclusivamente de sua
idade, mas de acordo com Coelho (2002) do seu nível de amadurecimento psíquico,
afetivo e intelectual e seu nível de conhecimento e domínio do mecanismo da
leitura. Neste sentido, é necessária a adequação dos livros às diversas etapas
pelas quais a criança normalmente passa. Existem cinco categorias que norteiam
as fases do desenvolvimento psicológico da criança: o pré-leitor, o leitor
iniciante, o leitor-em-processo, o leitor fluente e o leitor crítico.
O pré-leitor: categoria que abrange duas
fases.Primeira infância (dos 15/17 meses aos 3 anos) Nesta fase a criança
começa a reconhecer o mundo ao seu redor através do contato afetivo e do tato.
Por este motivo ela sente necessidade de pegar ou tocar tudo o que estiver ao
seu alcance. Outro momento marcante nesta fase é a aquisição da linguagem, onde
a criança passa a nomear tudo a sua volta. A partir da percepção da criança com
o meio em que vive, é possível estimulá-la oferecendo-lhe brinquedos, álbuns,
chocalhos musicais, entre outros. Assim, ela poderá manuseá-los e nomeá-los e
com a ajuda de um adulto poderá relacioná-los propiciando situações simples de
leitura.
Segunda infância (a partir dos 2/3 anos) É o
início da fase egocêntrica. Está mais adaptada ao meio físico e aumenta sua
capacidade e interesse pela comunicação verbal. Como interessa-se também por
atividades lúdicas, o “brincar”com o livro será importante e significativo para
ela.
Nesta fase, os livros adequados, de acordo com
Abramovich (1997) devem apresentar um contexto familiar, com predomínio
absoluto da imagem que deve sugerir uma situação. Não se deve apresentar texto
escrito, já que é através da nomeação das coisas que a criança estabelecerá uma
relação entre a realidade e o mundo dos livros.
Livros que propõem humor, expectativa ou mistério
são indicados para o pré-leitor.
A técnica da repetição ou reiteração de elementos
são segundo Coelho (2002, p.34) “favoráveis para manter a atenção e o interesse
desse difícil leitor a ser conquistado”. O leitor iniciante (a partir dos 6/7
anos) Essa é a fase em que a criança começa a apropriar-se da decodificação dos
símbolos gráficos, mas como ainda encontra-se no início do processo, o papel do
adulto como “agente estimulador” é fundamental.
Os livros adequados nesta fase devem ter uma
linguagem simples com começo, meio e fim. As imagens devem predominar sobre o
texto. As personagens podem ser humanas, bichos, robôs, objetos, especificando sempre
os traços de comportamento, como bom e mau, forte e fraco, feio e bonito.
Histórias engraçadas, ou que o bem vença o mal atraem muito o leitor nesta
fase. Indiferentemente de se utilizarem textos como contos de fadas ou do mundo
cotidiano, de acordo com Coelho (ibid, p. 35) “eles devem estimular a
imaginação, a inteligência, a afetividade, as emoções, o pensar, o querer, o
sentir”.
O leitor-em-processo (a partir dos 8/9anos) A
criança nesta fase já domina o mecanismo da leitura. Seu pensamento está mais
desenvolvido, permitindo-lhe realizar operações mentais. Interessa-se pelo
conhecimento de toda a natureza e pelos desafios que lhes são propostos. O
leitor desta fase tem grande atração por textos em que haja humor e situações
inesperadas ou satíricas. O realismo e o imaginário também agradam a este
leitor. Os livros adequados a esta fase devem apresentar imagens e textos,
estes, escritos em frases simples, de comunicação direta e objetiva. De acordo
com Coelho (2002) deve conter início, meio e fim. O tema deve girar em torno de
um conflito que deixará o texto mais emocionante e culminar com a solução do
problema.
O leitor fluente (a partir dos 10/11 anos) O
leitor fluente está em fase de consolidação dos mecanismos da leitura. Sua
capacidade de concentração cresce e ele é capaz de compreender o mundo expresso
no livro. Segundo Coelho (2002) é a partir dessa fase que a criança desenvolve
o “pensamento hipotético dedutivo” e a capacidade de abstração. Este estágio,
chamado de pré-adolescência, promove mudanças significativas no indivíduo. Há
um sentimento de poder interior, de ver-se como um ser inteligente, reflexivo,
capaz de resolver todos os seus problemas sozinhos. Aqui há uma espécie de
retomada do egocentrismo infantil, pois assim como acontece com as crianças
nesta fase, o pré-adolescente pode apresentar um certo desequilíbrio com o meio
em que vive.
O leitor fluente é atraído por histórias que
apresentem valores políticos e éticos, por heróis ou heroínas que lutam por um
ideal. Identificam-se com textos que apresentam jovens em busca de espaço no
meio em que vivem, seja no grupo, equipe, entre outros.É adequado oferecer a
esse tipo de leitor histórias com linguagem mais elaborada. As imagens já não
são indispensáveis, porém ainda são um elemento forte de atração. Interessam-se
por mitos e lendas, policiais, romances e aventuras. Os gêneros narrativos que
mais agradam são os contos, as crônicas e as novelas.
O leitor crítico (a partir dos 12/13 anos) Nesta
fase é total o domínio da leitura e da linguagem escrita. Sua capacidade de
reflexão aumenta, permitindo-lhe a intertextualização. Desenvolve
gradativamente o pensamento reflexivo e a consciência crítica em relação ao
mundo. Sentimentos como saber, fazer e poder são elementos que permeiam o adolescente.
O convívio do leitor crítico com o texto literário, segundo Coelho (2002, p.40)
“deve extrapolar a mera fruição de prazer ou emoção e deve provocá-lo para
penetrar no mecanismo da leitura”.
O leitor crítico continua a interessar-se pelos
tipos de leitura da fase anterior, porém, é necessário que ele se aproprie dos
conceitos básicos da teoria literária. De acordo com Coelho (ibid, p.40) a
literatura é considerada a arte da linguagem e como qualquer arte exige uma
iniciação. Assim, há certos conhecimentos a respeito da literatura que não
podem ser ignorados pelo leitor crítico.
Conclusão
Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é
um processo constante, que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola
e continua pela vida inteira. Existem diversos fatores que influenciam o
interesse pela leitura. O primeiro e talvez mais importante é determinado pela
“atmosfera literária” que, segundo Bamberguerd (2000, p.71) a criança encontra em casa. A criança que houve
histórias desde cedo, que tem contato direto com livros e que seja estimulada,
terá um desenvolvimento favorável ao seu vocabulário, bem como a prontidão para
a leitura.
De acordo com Bamberguerd (2000) a criança que lê
com maior desenvoltura se interessa pela leitura e aprende mais facilmente,
neste sentido, a criança interessada em aprender se transforma num leitor
capaz. Sendo assim, pode-se dizer que a capacidade de ler está intimamente
ligada a motivação. Infelizmente são poucos os pais que se dedicam efetivamente
em estimular esta capacidade nos seus filhos. Outro fator que contribui
positivamente em relação à leitura é a influência do professor. Nesta
perspectiva, cabe ao professor desempenhar um importante papel: o de ensinar a
criança a ler e a gostar de ler.
Professores que oferecem pequenas doses diárias
de leitura agradável, sem forçar, mas com naturalidade, desenvolverão na
criança um hábito que poderá acompanhá-la pela vida afora. Para desenvolver um
programa de leitura equilibrado, que integre os conteúdos relacionados ao
currículo escolar e ofereça uma certa variedade de livros de literatura como
contos, fábulas e poesias, é preciso que o professor observe a idade
cronológica da criança e principalmente o estágio de desenvolvimento de leitura
em que ela se encontra. De acordo com Sandroni & Machado (1998, p.23) “o
equilíbrio de um programa de leitura depende muito mais do bom senso e da
habilidade do professor que de uma hipotética e inexistente classe homogênea”.
Assim, as condições necessárias ao
desenvolvimento de hábitos positivos de leitura, incluem oportunidades para ler
de todas as formas possíveis. Freqüentar livrarias, feiras de livros e
bibliotecas são excelentes sugestões para tornar permanente o hábito de
leitura.
Num mundo tão cheio de tecnologias em que se vive,
onde todas as informações ou notícias, músicas, jogos, filmes, podem ser
trocados por e-mails, cd’s e dvd’s o lugar do livro parece ter sido esquecido.
Há muitos que pensem que o livro é coisa do passado, que na era da Internet,
ele não tem muito sentido. Mas, quem conhece a importância da literatura na
vida de uma pessoa, quem sabe o poder que tem uma história bem contada, quem
sabe os benefícios que uma simples história pode proporcionar, com certeza
haverá de dizer que não há tecnologia no mundo que substitua o prazer de tocar
as páginas de um livro e encontrar nelas um mundo repleto de encantamento.
Se o professor acreditar que além de informar,
instruir ou ensinar, o livro pode dar prazer, encontrará meios de mostrar isso
à criança. E ela vai se interessar por ele, vai querer buscar no livro esta
alegria e prazer. Tudo está em ter a chance de conhecer a grande magia que o
livro proporciona. Enfim, a literatura infantil é um amplo campo de estudos que
exige do professor conhecimento para saber adequar os livros às crianças,
gerando um momento propício de prazer e estimulação para a leitura.
Trabalho científico apresentado à
Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA, como requisito parcial para a
obtenção do Título de graduada em Licenciatura Específica
em Português.
ELINE FERNANDES DE CASTRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário!