RESUMO
AULA 1
Ao discutirmos cultura, emerge em nosso imaginário toda uma gama
riquíssima de formas de existir e de se expressar nas mais diversas culturas
humanas, seja na culinária, na religiosidade, no lazer, nas formas de interação
entre os diversos grupos, nas manifestações artísticas, nos esportes, entre
outras atividades.
A discussão de cultura sempre
remete ao processo, à experiência histórica. Não há sentido em ver a cultura
como um sistema fechado. Isso não quer dizer que não possamos estudá-la.
Podemos, por exemplo, indagar quais os processos próprios dessa dimensão
cultural, como cada uma de suas áreas de manifestações se desenvolve, tem sua
dinâmica; quais as instituições a ela ligadas mais de perto, as concepções nela
presentes, as mensagens políticas que contém. Podemos indagar sobre as
tendências dessa dimensão cultural e discutir as propostas para seu
desenvolvimento ou transformação. Santos
(1983, p.79)
Quando se fala em arte e lúdico,
associam-se esses conceitos imediatamente a quê?
À criança e, referindo-se a ela, somos
levados a refletir sobre a Cultura da Infância, não de uma infância vista sob
uma visão
adultocêntrica (Maneira de ver a criança sob a perspectiva do
mundo adulto.), mas da maneira como
a criança já pode ser vista: a criança como ser capaz, produtora de cultura e
portadora de história. Elas constroem ações no mundo adulto produzindo sua
cultura. Ver a criança como filho ou aluno é a visão do adulto, e ela deve ser vista sob um outro ponto de
dimensão, como um ator social com voz própria, mesmo quando ainda nos primeiros
meses de vida, enquanto ainda não falam. Devem fazer parte dos personagens
principais, mesmo quando ainda não sabem escrever para expressar desejos e
sentimentos.
A área
de arte está relacionada com as demais áreas e tem suas especificidades. A
educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da
percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à
experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação,
tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as
formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes
culturas. Parâmetros curriculares Nacionais – Arte/Ministério da Educação e do
Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1997. Volume
6: Introdução – p 19.
O processo ensino-aprendizagem da arte faz com que o aluno se
relacione de maneira criativa com as outras áreas do conhecimento. Exercitar continuamente
a imaginação torna a criança, por exemplo, mais apta a desenvolver estratégias
pessoais para a resolução de problemas de matemática.
Conhecer a arte de
outras culturas proporciona ao aluno perceber o quanto sua cultura é relativa, pois depende dos valores de seus modos de
pensar e agir, e isso abrirá possibilidades de criar uma interação com outras
culturas e outros modos de pensar, possibilidades essas que farão com que seja
mais crítico na observação de elementos de sua própria cultura, podendo
contribuir para uma melhor qualidade de vida.
O conhecimento da arte abre perspectivas para que o
aluno tenha uma compreensão do mundo na qual a dimensão poética esteja
presente: a arte ensina que é possível transformar continuamente a existência,
que é preciso mudar referências a cada momento, ser flexível. Isso quer dizer
que criar e conhecer são indissociáveis e a flexibilidade é condição
fundamental para aprender.
O ser
humano que não conhece arte tem uma experiência de aprendizagem limitada, escapa-lhe
a dimensão do sonho, da força comunicativa dos objetos à sua volta, da
sonoridade instigante da poesia, das criações musicais, das cores e formas, dos
gestos e luzes que buscam o sentido da vida. Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros curriculares Nacionais – Temas Transversais /Ministério
da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília:
MEC/SEF, 1997. Volume 1: Introdução – p 19.
Huizinga (2007) estudou “o jogo”, ou o brincar, como fenômeno cultural e não
biológico, em uma perspectiva histórica, não propriamente científica em sentido
restrito, ou seja, jogar é uma atividade que faz parte do nosso cotidiano. Ele
credita que é no jogo e pelo jogo que a civilização aparece e se desenvolve. O
jogo está integrado à nossa cultura.
O jogo é mais antigo que a cultura, pois
esta pressupõe a sociedade humana e, antes de se estabelecer em grupos sociais,
o homem, por meio da caça, de certa maneira, já jogava, e antes disso os animais
já haviam estabelecido atividades lúdicas, como acontecia com a brincadeira
entre filhotes. O homem não acrescentou nenhuma contribuição especial ao jogo.
O lúdico ultrapassa os limites da atividade puramente física ou
biológica, é uma atividade que encerra um sentido. Nele existe algo que
transcende as necessidades imediatas da vida, conferindo um sentido à ação.
Implica a presença de um elemento não material em sua própria essência, como o
prazer em jogar.
Quando falamos de lúdico, de um modo geral,
estamos nos referindo de maneira particular à escola, ao trabalho realizado por
crianças ou jovens e adultos em atividades como: pintura, escultura, música,
teatro, contação de histórias, artesanato, jogos e brincadeiras em geral.
Nossa reflexão, até
este momento, tem o objetivo de ressaltar a importância da arte e do lúdico no
processo de ensino-aprendizagem das crianças e dos jovens e
adultos que devem ser sempre considerados como sujeitos sócio históricos, que
devem ser considerados como autores de sua própria história.
Ariès (1981) nos traz que a criança era tratada, em seus primeiros anos de
vida, de um modo superficial a que ele chamou de paparicação. A criança era objeto de diversão e tratada como um
pequeno animal. Como era alto o índice de mortalidade, por falta de atenção à
saúde pública, algumas pessoas ficavam sensibilizadas quando uma delas
desaparecia, mas logo vinha outra criança que substituía a anterior e assim a
criança era tratada como um ser anônimo.
Os meninos eram tratados diferentemente das meninas e, quando
cresciam, fariam parte do grupo dos homens que, ao longo da história, sempre
foram considerados seres “superiores” às mulheres.
A vida era diferente para os meninos e meninas. Até por volta dos
sete anos, as crianças ficavam sob a guarda das mães, quando começava o período
de educação para os meninos. Imagens mostram meninos acompanhados do “paidagogo” que significa
condutor de crianças ou tutor, sentados à frente do professor, que lhe dava
lições de leitura e escrita. Em outras imagens aparecem meninos na aula de
música aprendendo a tocar lira, andando a cavalo e praticando boxe.
Entre os dezoito e vinte anos os meninos
entravam no exército e as meninas casavam-se entre quatorze e quinze anos e
iam viver uma vida reclusa na casa de seus maridos. Os homens casavam por volta
dos trinta anos.
Apesar de se imaginar que a vida não era fácil para algumas
crianças gregas, o jogo era uma atividade que fazia parte da infância. Para
designar jogo era utilizada a palavra paignia,
relacionada com a deusa grega da ludicidade, o que mostra a importância do jogo
em suas vidas.
A partir do século XVIII a família começou
a isolar-se da sociedade. A organização da casa passou a ser a nova preocupação
de defesa contra o mundo, segundo Ariès (1978). Cômodos ligados por um
corredor, nem sempre com acesso entre eles, que iriam conviver com a
intimidade, a discrição e o isolamento. As camas não estavam mais espalhadas
por toda a parte, elas tinham agora um lugar reservado no quarto de dormir.
Essa mudança foi uma das mais
significativas da vida cotidiana, deixando um espaço maior para a intimidade,
espaço este que foi ocupado por uma família reduzida aos pais e às crianças.
Até esta época as pessoas preocupavam-se somente com as doenças mais graves e,
a partir de então, preocupações com pequenos resfriados nas crianças e nos
adultos passaram a ocupar lugar de importância e as questões de saúde, junto
com a educação, passaram a serem duas das maiores preocupações dos pais.
Percebemos que a forma de encarar a infância foi mudando no
decorrer dos tempos e podemos, então, perguntar: quem é a criança de hoje?
Frabbroni (1998) diz que, apesar da semelhança cronológica, existem diferentes
infâncias: a infância da criança que
possui uma família com nível social-econômico alto, que estuda e brinca, mas
que tem o seu dia preenchido com inúmeras atividades; e a infância da criança
que participa da formação da renda familiar, que trabalha e nem sempre pode
estudar. Convive com essas “infâncias” a criança que, acompanhada de adultos e
de outras crianças, fica pedindo esmolas ou cometendo pequenas infrações e
também a infância da criança que ajuda nas tarefas diárias de casa ou do
trabalho dos pais, aprendendo uma profissão desde pequena.
Tudo isto significa, em termos pedagógicos,
garantir à infância três experiências educativas fundamentais:
A primeira
identifica-se com a incorporação-participação da criança nos âmbitos do seu
território de vida, no povoado-bairro-região, custódias do mundo de coisas e
valores dos quais ela mesma, como criança, é um testemunho.
A segunda
identifica-se com a satisfação daquelas necessidades que a atual sociedade de
consumo tende a subtrair e a negar à infância (fazemos referência à
“comunicação”, à “fantasia”, à exploração, à construção, “ao movimento”, ao
agir por “conta própria”)
A terceira
tem um lugar através de uma experiência de socialização que seja, ao mesmo
tempo, um processo de “assimilação” e “interiorização” (e, portanto de
conscientização, para dizê-lo usando as palavras de Freire) da escala de normas
e valores estabelecidos e sancionados pela sociedade adulta. O chamamento
pedagógico que é ouvido hoje com maior insistência é aquele que solicita que
seja jogado um bote salva-vidas para a infância. Especificamente, pede-se à família
e à escola que projetem uma nova imagem da criança. O reaparecimento em cena
da infância, dito em outras palavras, com a roupagem da razão. Uma infância que
venha, logicamente, equipada com fantasia, sentimento, intuição, mas também com
“corporeidade”, com “linguagens”, “lógica”, “cultura antropológica”: com sangue
social. Com vontade de conhecer o próprio território de vida e a própria região
histórica. FRABBONI in ZABALA (1998 p. 68)
A arte é uma das mais antigas manifestações
simbólicas realizada pelo ser humano, antecedendo a escrita. Foi através dela
que o homem da pré-história deixou seus registros sobre alguns aspectos de sua
forma de viver.
Como linguagem (tal como a Matemática e a Língua Portuguesa) ela
possui uma gramática própria que necessita ser apropriada para que possamos
usá-la como forma de produção e expressão, seja da realidade circundante, seja
dos nossos sentimentos e impressões sobre o mundo que nos cerca.
Esperamos que, ao final desta aula, você possa estabelecer
relações significativas sobre a importância que a arte e o lúdico ocupam na
sociedade tanto no plano individual, como coletivo, e de que forma ela está
presente em sua vida.
• Imagine-se vivendo sem escutar suas
músicas favoritas.
• Como foi que a música e a dança marcaram
sua fase de adolescente?
• Imagine se tivéssemos apenas as palavras
para expressar nossos sentimentos e ideias....
Ideias como essas e muitas outras percorrem o imaginário de
milhões e milhões de pessoas em todo o planeta e não só na linguagem musical,
mas nas artes plásticas, no cinema, no teatro, na dança enfim, nas mais
diversas linguagens artísticas.
Mas, não é somente no plano subjetivo, ou seja, no nosso plano
individual que a arte apresenta um sem número de correlações, mas sim, ela
aparece de uma forma muito significativa também na política, na economia, na
educação, na religião dentre outras diversas áreas de conhecimento e de atuação
humana.
É nessa perspectiva
que a arte se insere no nosso cotidiano: um “sensível perceber de estímulos”
sejam eles vindos dos objetos naturais ou artificiais: o frescor de uma brisa que sopra sobre
nós, o balançar das folhas de uma árvore, o mar de cores de um vaso repleto de
flores, a sonoridade de uma cantiga, os acordes de uma guitarra, o ruído
ensurdecedor de uma avenida agitada, a paz de uma praça tranquila, a
grandiosidade de uma obra como o Cristo redentor no Rio de Janeiro.
A arte
é o meio indispensável para essa união do indivíduo com o todo da realidade,
com o todo; reflete a infinita capacidade humana para a associação, para a
circulação de experiências e ideias. (FISCHER, 1985,p.130)
Nessa perspectiva podemos entender a arte
como um instrumento de conhecimento individual e coletivo da realidade
circundante, uma postura ativa do ser frente ao mundo que o rodeia, que permite
inúmeros questionamentos e possíveis formas de transformação, uma forma de e
comunicação humana nas mais diversas linguagens: musical, plástica, verbal,
dramática e gestual.
O ser humano alfabetizado nessas linguagens, e não apenas na
linguagem oral e matemática, possui maiores habilidades e competências para
lidar com a complexidade sociocultural deste terceiro milênio.
IDEIAS CHAVE
A cultura não é um sistema fechado. Por
Cultura podemos interpretar:
- saber, conhecimento adquirido;
- plantação, cuidado como campo
(agricultura);
- manifestação artística regional, teatro,
cinema;
- tudo o que o homem vivencia, realiza,
cria e transmite – hábitos e costumes.
A criança dever ser reconhecida como um
sujeito sócio histórico.
A arte é um meio indispensável para a união
do indivíduo com o seu entorno.
É preciso reconhecer importância da arte e do lúdico na formação
da Infância.
Sofremos muito com o pouco que nos
falta e gozamos pouco o muito que temos.
Marcos A. Pizzelli
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