Autor: Alcione Vieira de
Paiva e Luana Carolina Rodrigues Cardoso
Data: 26/08/2010
Resumo
Este artigo foi elaborado no segundo semestre de
2009, como pré-requisito para a obtenção do título de Especialista "Lato
Sensu" em Educação Infantil, pelo Centro de Pesquisas Educacionais de
Minas Gerais, CEPEMG. Abordou a importância do desenho infantil no processo de
alfabetização. Os objetivos foram analisar os estágios de evolução do desenho
infantil; revisar bibliografia sobre o tema e identificar a influência do
desenho infantil na aquisição da escrita por crianças na faixa etária de dois a
sete anos.
Introdução
Este trabalho foi motivado pelo desejo das autoras
de identificar as contribuições do desenho infantil no processo na aquisição da
escrita por crianças na faixa etária de dois a sete anos. Buscou-se reunir e
revisar a bibliografia sobre estudos de alguns teóricos traçando um breve
panorama sobre o assunto. Foram objetivos desse trabalho: analisar os estágios
de evolução do desenho infantil; revisar bibliografia sobre o tema e
compreender como o desenho infantil influencia no processo de alfabetização.
Muitas crianças ao chegarem ao 1º ano do ensino
fundamental apresentam dificuldades de aprendizagem relacionadas à escrita. É
possível que estas crianças não tenham tido oportunidades significativas de
interação na educação infantil, fase na qual se desenvolve a função simbólica e
consequentemente os sistemas de representação, fato que pode ter prejudicado o
desenvolvimento da criança. Em situações como esta, é perceptível a importância
do trabalho na educação infantil que priorize e preserve os momentos lúdicos e
prazerosos, que certamente contribuirão para o desenvolvimento do desenho infantil.
Ao final do seu primeiro ano de vida, que
compreende o estágio sensório-motor, descrito por Piaget (1948), a criança é
capaz de manter ritmos regulares e produzir seus primeiros traços gráficos. O
desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que, no
início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para
construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos. De
acordo com o mesmo autor, a função semiótica é a capacidade que a criança tem de
representar objetos ou situações que estão fora do seu campo visual por meio de
imagens mentais, de desenhos, da linguagem. A criança passa a desenvolver essa
função no estágio pré-operatório, que compreende faixa etária de dois a sete
anos.
As crianças no início dessa fase começam a
representar na tentativa de interagir com o mundo que a cerca, desenvolvendo a
função simbólica, entendida como ato de representação, possibilita à criança,
de acordo com Ribeiro (2007) "[...] à tomada de consciência da organização
do mundo e o entendimento de fatos passados, presentes e futuros [...]".
Sendo assim, entende-se que a representação é requisito básico para as
operações mentais.
O que constitui a função semiótica e o que a faz
ultrapassar a atividade sensório-motora é a capacidade de representar um objeto
ausente, por meio de símbolos ou signos, o que implica poder diferenciar e
coordenar os significantes e os significados ao mesmo tempo. (PILLAR, 1996,
p.26)
A cada representação que a criança faz, o jogo
simbólico e o desenho passam a ser uma necessidade, e é assim que elas vão se
inserindo no processo de alfabetização, desde o estágio pré-operatório, onde se
inicia o processo de representação, interagindo com a escrita como se a mesma
fosse um jogo que contêm regras e, contêm também o imaginário. Dessa forma a
escrita deixa de ser uma representação mental e passa a ser uma representação
gráfica, carregada de sentidos, assim como o desenho que, primeiro passa pelo
plano da representação mental e só depois a criança passa a representá-lo
graficamente. Assim o desenho infantil pode ser considerado precursor da
escrita, estando diretamente relacionado ao processo de alfabetização.
1. Pressupostos Teóricos
Os primeiros estudos sobre desenho das crianças
datam do final do século XIX e estão fundados nas concepções psicológicas e
estéticas da época. São os psicólogos e os artistas que descobrem a
originalidade dos desenhos infantis e publicam as primeiras 'notas' e
'observações' sobre o assunto. Como escreveu o famoso pintor Pablo Picasso em
relação às suas observações sobre o desenho infantil: Quando criança, eu
desenhava como Rafael. À medida que fiquei mais velho, passei a desenhar como
criança.
De certa forma eles transpuseram para o domínio do
grafismo a descoberta fundamental de Jean Jacques Rousseau sobre a maneira
própria de ver e de pensar da criança. As concepções relativas a infância
modificaram-se progressivamente. A descoberta de leis próprias da psique
infantil, a demonstração da originalidade de seu desenvolvimento, levaram a
admitir a especificidade desse universo.
Piaget (1948) diz que a representação é gerada pela
função semiótica, a qual possibilita à criança reconstruir em pensamento um
objeto ausente por meio de um símbolo ou signo. A representação é condição
básica para o pensamento existir, uma vez que, sem ela, não há pensamento, só
inteligência puramente vivida como no nível sensório-motor. É através do
surgimento da função semiótica que a criança consegue evocar e reconstruir em
pensamento ações passadas e relacioná-las com as ações atuais. Essa passagem é
possível por interações da criança com o ato de desenhar e com desenhos de
outras pessoas. Na garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho é
simplesmente uma ação sobre uma superfície, e ela sente prazer ao constatar os
efeitos visuais que essa ação produziu. No decorrer do tempo, as garatujas, que
refletiam o prolongamento de movimentos rítmicos de ir e vir transformam-se em
formas definidas que apresentam maior ordenação, e podem estar se referindo a
objetos naturais, objetos imaginários ou mesmo a outros desenhos. Na evolução
da garatuja para o desenho de formas mais estruturadas, a criança desenvolve a
intenção de elaborar imagens no fazer artístico. Começando com símbolos muito
simples, ela passa a articulá-los no espaço do papel, na areia, na parede ou em
qualquer outra superfície.
Passa também a constatar a regularidade nos
desenhos presentes no meio ambiente e nos trabalhos aos quais ela tem acesso,
incorporando esse conhecimento em suas próprias produções. No início, a criança
trabalha sobre a hipótese de que o desenho serve para imprimir tudo o que ela
sabe sobre o mundo. No decorrer da simbolização, a criança incorpora
progressivamente regularidades ou códigos de representação das imagens do
entorno, passando a considerar a hipótese de que o desenho serve para imprimir
o que se vê.
É assim que, por meio do desenho, a criança cria e
recria individualmente formas expressivas, integrando percepção, imaginação,
reflexão e sensibilidade, que podem então ser apropriadas pelas leituras
simbólicas de outras crianças e adultos.
O desenho como possibilidade de brincar, o desenho
como possibilidade de falar de registrar, marca o desenvolvimento da infância,
porém em cada estágio, o desenho assume um caráter próprio. Estes estágios
definem maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças,
apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. Esta maneira
de desenhar própria de cada idade varia, inclusive, muito pouco de cultura para
cultura.
Pillar (2006) afirma que a criança não nasce
sabendo desenhar, que este conhecimento é construído a partir da sua relação
direta com o objeto, assim são suas estruturas mentais é que definem as suas
possibilidades quanto a representação e interpretação do objeto. Assim a
criança é o sujeito de seu processo, ela aprende a desenhar a partir de sua
interação com o desenho. Vários teóricos seguem essa linha teórica quanto ao
desenho infantil, dentre eles Luquet(1969), Piaget (1948), Gardner(1999),
Méredieu (1995) dentre outros.
Luquet (1969) foi um dos primeiros teóricos a se
interessar pelo desenho infantil, analisando-o numa abordagem cognitiva. O
autor buscou respostas para questões relativas o quê e como a criança
desenhava, assim como suas intenções e interpretações. Aborda os 'erros' e
'imperfeições' do desenho da criança que atribui a 'inabilidade' e 'falta de
atenção', além de afirmar que existe uma tendência natural e voluntária da
criança para o realismo.
Em Méredieu(1995), Luquet distingue quatro estágios
do desenho infantil: o Realismo fortuito: começa por volta dos 2 anos e põe fim
ao período chamado rabisco. A criança que começou por traçar signos sem desejo
de representação descobre por acaso uma analogia com um objeto e o seu traçado
passa a nomear seu desenho; Realismo fracassado: por volta dos 3 a 4 anos tendo
descoberto a identidade forma-objeto, a criança procura reproduzir esta forma.
Surge então uma fase de aprendizagem pontuada de fracassos e de sucessos
parciais; Realismo intelectual: estendendo-se dos 4 aos 10-12 anos, é o
principal estágio e caracteriza-se pelo fato que a criança desenha do objeto
não aquilo que vê, mas aquilo que sabe.
Enfim, aos quatro anos, a criança chega ao realismo
visual cuja principal manifestação é a submissão mais ou menos infeliz na
execução à perspectiva. (Luquet, 1969, p.212)
A análise dos estudos piagetianos mostram que
o desenvolvimento do desenho segue os mesmos estágios de Luquet (1969), no
entanto são analisados dentro da perspectiva das fases do desenvolvimento
infantil da representação. Piaget classifica as fases do desenho como:
- Garatuja:
Faz parte da fase sensório motora (0 a 2 anos) e parte da fase
pré-operatória (2 a 7 anos). A criança demonstra extremo prazer nesta
fase. A figura humana é inexistente ou pode aparecer da maneira
imaginária. A cor tem um papel secundário, aparecendo o interesse pelo
contraste, mas não há intenção consciente. A fase da garatuja pode ser
dividida em outras duas partes:
- Desordenada:
movimentos amplos e desordenados. Com relação a expressão, vemos a
imitação "eu imito, porém não represento". Ainda é um exercício,
simples riscos ainda desprovidos de controle motor, a criança ignora os
limites do papel e mexa todo o corpo para desenhar, avançando os traçados
pelas paredes e chão. As primeiras garatujas são linhas longitudinais que,
com o tempo, vão se tornando circulares e, por fim, se fecham em formas
independentes, que ficam soltas na página. No final dessa fase, é possível
que surjam os primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças com
olhos.
- Ordenada:
movimentos longitudinais e circulares; coordenação viso-motora. A figura
humana pode aparecer de maneira imaginária, pois aqui existe a exploração
do traçado; interesse pelas formas.
Nessa fase inicia-se o jogo simbólico: "eu represento sozinho". Ocorre a mudança de movimentos; formas irreconhecíveis com significado; atribui nomes, conta histórias. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, aparecem sóis, radiais e mandalas. Dentro da fase pré-operatória, aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são dispersos inicialmente, não relaciona entre si. Então aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo devido à vínculos emocionais. A figura humana torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos. Quanto a utilização das cores, pode usar, mas não há relação ainda com a realidade, dependerá do interesse emocional. Dentro da expressão, o jogo simbólico aparece como: "nós representamos juntos". Já conquistou a forma e seus desenhos têm a intenção de reproduzir algo. Ela também respeita melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco.
De acordo com Piaget (1948), no estágio pré-esquemático, que inicia-se por volta dos quatro anos e se estende até os sete anos. Após esta fase a criança com idade entre sete e nove anos entra no estágio esquemático, e após os nove anos passa para o estágio do realismo nascente, vale ressaltar que estes estágios compreendidos entre os sete e onze anos estão dentro do período das operações concretas. Estes estágios não são estáticos, imutáveis, existem crianças que pulam alguns estágios de desenvolvimento e crianças que param de se desenvolver devido a vários fatores que influenciam em sua vida, como deficiências física ou mental, como família, situação social e econômica ou distúrbios psicológicos.
Gardner(1999) faz uma abordagem cognitiva baseada em Piaget, e uma análise afetiva, baseada em sistemas de simbolização. Este autor considera que o desenvolvimento do desenho infantil, divide-se em quatro movimentos. São movimentos que mantêm sua essência, sendo maleáveis e modificando-se mediante as intervenções externas, ou seja, pelo meio sócio-cultural, pela família e pelo educador. Há necessidade de que haja uma compreensão desses quatro movimentos e de tudo que os envolvem porque cada um tem sua beleza e significação. Estudá-los é estar se fundamentando para poder fazer uma boa leitura da expressão artística da criança.
2. O desenho e o processo de alfabetização
A partir dos estudos realizados é possível dizer
que existe uma estreita relação entre a evolução da escrita e a do desenho.
Para Ferreiro citada por Ribeiro (2007) a aprendizagem da língua escrita á a
construção de um sistema de representação, assim como o desenho. A
aprendizagem, nesse enfoque, converte-se na apropriação de um novo objeto de
conhecimento, ou seja, em uma aprendizagem conceitual. [...] para conhecer os
objetos, é preciso agir sobre eles de maneira a decompô-los e a recompô-los.
(PIAGET, 1948, p.8)
[...] para que a criança se aproprie do sistema de
representação da escrita, ela terá que reconstruí-lo, diferenciando os
elementos e as relações próprias ao sistema, bem como a natureza do vínculo
entre o objeto de conhecimento e a sua representação. (PILLAR, 1996, p.32)
As pesquisas realizadas por Emília Ferreiro indicam
que cada sujeito, no processo de construção da escrita, parece refazer o
caminho percorrido pela humanidade, qual seja: Pictográfica: forma de escrita
mais antiga que permitia representar só os objetos que podiam ser desenhados:
desenho do próprio objeto para representar a palavra solicitada. Ideográfica:
consistia no uso de um simples sinal ou marca para representar uma palavra ou
conceito: uso de símbolos diferentes para representar palavras diferentes.
Logográfica: escrita constituída por desenhos, referentes ao nome dos objetos e
não ao objeto em si.
Assim como as primeiras civilizações faziam
inscrições na pedra e a "escrita" representava o próprio objeto, para
Ferreiro citada por Ribeiro (2007), a criança associa o significante ao
significado. Sendo assim, considerando a escrita como sistema de representação,
a autora observa que [...] quando uma criança começa a escrever, produz traços
visíveis sobre o papel, e além disso, e fundamentalmente, põe em jogo suas
hipóteses acerca do significado mesmo da representação gráfica. (RIBEIRO,
2007,p. 40)
Na pesquisa realizada por Emília Ferreiro e Ana
teberosky (1999) sobre a aquisição do sistema de escrita, concluiu que havia
níveis nesse desenvolvimento. Os níveis descritos pelas autoras são:
pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético.
O nível Pré-silábico I, em m que a criança acredita
que escrever é reproduzir ou imitar os traços da escrita do adulto. Nesta etapa
a criança pode ter a intenção de produzir marcas diferenciando desenhos de
letras ou outros códigos, mas sua escrita ainda não pode funcionar como um
veículo informativo.e Pré-silábico II. Se a forma básica de escrita que a
criança tem contato for letra de imprensa, fará rabiscos separados, com linhas
retas e curvas; se for letra cursiva fará rabiscos ondulados.
No nível pré-silábico II a criança já usa letras ou
criam pseudoletras, quando ainda não dominam as letras convencionais do nosso
alfabeto para escreverem algo. A criança pensa que é possível ler nomes
diferentes com grafias iguais; Posteriormente a criança nega esta sua
hipótese, porque acredita que, para ler nomes diferentes, eles devem ser
escritos com letras diferentes.
Ainda de acordo com Ferreiro e Teberosky (1999), a
criança passa por uma fase em que ocorre o que denomina eixo quantitativo da
escrita. A criança, de um modo geral, exige um mínimo de três letras para o
escrito ser uma palavra. As palavras como pé, sol, rua, lar e outras, segundo
ela não poderão ser lidas porque tem poucas letras. São rejeitadas, em função
do critério interno de quantidade. O adulto que, normalmente, lê artigos,
preposições, conjunções e outros, jamais suspeitariam desse critério que a
criança utiliza. Daí a ênfase de Emília Ferreiro no sentido de que o processo
de alfabetização tem que ser visto do ponto de vista de quem aprende (aluno) e
não daquele que ensina (professor).
Segundo as autoras, a criança pode vir a passar por
momentos onde afirmam que para que se possa ler ou escrever uma palavra,
torna-se necessário, também, variedade de caracteres gráficos. As palavras que
possuem letras iguais são também rejeitadas. A criança acredita que "não
servem para ler". De acordo com este critério de variedade, para
possibilitar a leitura, é preciso haver letras variadas nas palavras.
Outro ponto a ressaltar, é que numa determinada fase,
a criança não separa letras de números. Costuma, às vezes, escrever colocando
numerais junto às letras, já que ambos envolvem linhas retas e curvas. A
característica observada é que a criança acredita que os nomes das pessoas,
animais ou objetos devem ter nomes grandes. Por conseguinte, as coisas pequenas
terão nomes pequenos. É o que chamamos de realismo nominal lógico.
Posteriormente as formas gráficas adquirem maior
proximidade com as letras convencionais. As crianças interagem com outros
sistemas notacionais, como por exemplo, os números fazendo distinção entre os
símbolos (letras) que são usadas na escrita de outras formas de produção
(desenhos, números, placas e outros).
No nível silábico, a criança começa a
escrever como uma produção controlada pela segmentação silábica da palavra. A
escrita neste nível constitui um grande avanço e se traduz num dos mais
importantes e esquemas construídos pela criança, durante o seu desenvolvimento.
Pela primeira vez, ela trabalha com a hipótese de que a escrita representada
partes sonoras da fala, porém uma particularidade: cada letra vale por uma
sílaba. Assim, utiliza tantas letras quanto forem as sílabas das palavras. Ao
trabalhar a escrita silábica, as exigências de variedade e de quantidade mínima
de caracteres que aparecem na escrita pré-silábica, podem desaparecer
momentaneamente.
Mas se a criança já tiver internalizado a hipótese
silábica, a exigência na variedade de caracteres reaparece, pois a criança não
aceita que uma palavra poderá ser lida com todas as letras iguais, e o problema
se agrava quando a palavra a ser escrita seja um monossílabo. A criança não
aceita que uma palavra com menos de três de letras possa ser lida, e então na
tentativa de que se possa ler o que ela escreveu, acrescenta-se letras ao final
da palavra. E a partir disso, surge um conflito cognitivo por causa da
exigência de quantidade mínima de caracteres e a criança tenta buscar outra
solução para o seu "problema".
No nível Silábico Alfabético, a passagem da
hipótese silábica para a alfabética é um passo de extrema importância na
evolução da leitura e da escrita. De acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) a
criança abandona a hipótese silábica e descobre a necessidade de fazer uma
análise, que vá "mais além" da sílaba, pelo conflito entre a hipótese
silábica e a exigência mínima de caracteres e o conflito entre a variedade
interna das letras.
A criança percebe a insuficiência de sua hipótese
ao associar uma letra para cada sílaba e passa a perceber a sílaba constituída
com mais de uma letra. Pode-se explicar a passagem do nível silábico para o
silábico-alfabético, quando a própria criança não consegue ler o que escreveu,
pois faltam elementos para que se faça a leitura, e quando os adultos não
conseguem ler o que a criança escreveu. Outro fator que também explica essa
passagem é impossibilidade de ler o que as pessoas alfabéticas escrevem, pois
as crianças acham que sempre está sobrando letras e então ela entra em
conflito, pois sabem que nos livros e nas escritas das pessoas alfabetizadas, o
que está escrito, está correto.
A fase final do processo de alfabetização de um
indivíduo é marcada pelo Nível Alfabético, segundo Ferreiro e Teberosky (1999).
Nesse nível, pode-se considerar que a criança venceu as barreiras do sistema de
representação da linguagem escrita. Ela já é capaz de fazer uma análise sonora
dos fonemas das palavras que escreve. Isso, porém não significa que todas as
dificuldades foram vencidas. A partir daí, surgirão os problemas relativos à
ortografia. Entretanto, trata-se de outro tipo de dificuldade que não
corresponde ao sistema de escrita que ela já venceu.
De acordo com a pesquisa realizada por Ferreiro e
Teberosky (1999), constatou-se que a apropriação do sistema de escrita passa
pela reconstrução deste objeto de conhecimento, onde o sujeito cria os
elementos e as relações que compõem este sistema de representação. Nesta
reconstrução, o sistema alfabético de escrita é uma das representações da
linguagem e não uma representação gráfica dos sons da fala.
3.Práticas na educação
No que diz respeito ao trabalho desenvolvido nas escolas em relação ao desenho, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental, é certo descaso com a disciplina que mais trabalha esse conteúdo a Artes como parte integrante do currículo e da formação das crianças. Os professores, em sua maioria, acreditam que o desenho nessa fase escolar não é importante e por esse motivo não planejam o trabalho envolvendo a arte em sala de aula. Mas o que foi observado durante o estudo sobre o desenho infantil e suas contribuições no processo de alfabetização, é que a arte é importante não só porque é uma forma de construir conhecimentos, é uma atividade que envolve a inteligência, o pensamento, a cognição; mas também que a arte influi na construção de conhecimentos, em especial em relação à escrita.
Luquet(1969) exemplifica como se dá o abandono da
criança pela atividade do desenho, conforme sua teoria, esse desinteresse é
produzido na idade em que a criança chega à concepção do realismo visual -
com a sua conseqüência fundamental: a perspectiva; os desenhos que executava
anteriormente de acordo com o realismo intelectual já não satisfazem o seu
espírito crítico desenvolvido, e sente-se incapaz de fazer desenhos como
quereria fazer. O autor afirma que o ensino do desenho deve visar não a
acelerar artificialmente a evolução espontânea do desenho, mas por a criança em
estado de desenhar convenientemente em realismo visual quando tenha esta
intenção. Isso deve ser feito mostrando-lhes objetos de seu quotidiano e
exercitando o desenho tanto quanto possível ao natural.
Para este autor, a principal atitude do educador
deve ser a de "apagar-se", deixar a criança use a sua criatividade,
fazendo sempre com que estas sugestões não soem como imposições deixando-a desenhar
ao seu modo, sem intervenções ou críticas. A princípio, para
a criança, o desenho não é um traçado executado para fazer uma imagem mas um
traçado executado simplesmente para fazer linhas. (Luquet, 1969 pg.145)
Dessa forma, possibilitar às crianças que desenhem,
ao contrário de ser perda de tempo, é propiciar-lhes representar graficamente
as suas experiências, ou seja, é construir representações de forma e espaço
através do desenho.
O desenho está também intimamente ligado com o
desenvolvimento da escrita. Parte atraente do universo adulto, dotada de
prestigio por ser "secreta", a escrita exerce uma verdadeira
fascinação sobre a criança, e isso bem antes de ela própria poder traçar
verdadeiros signos. Muito cedo ela tenta imitar a escrita dos adultos. Porém,
mais tarde, quando ingressa na escola verifica-se uma diminuição da produção
gráfica, já que a escrita (considerada mais importante) passa a ser concorrente
do desenho.
No entanto, cabe ao professor estudar e conhecer as
fases do desenho infantil e qual a relação que elas têm com os níveis de
desenvolvimento da escrita, para que assim ele possa proporcionar aos alunos
aulas que contribuíram tanto para o desenvolvimento artístico como o
desenvolvimento do processo de aquisição da escrita. É aconselhável, ao
professor, que ofereça às crianças o contato com diferentes tipos de desenhos e
obras de artes, que elas façam a leitura de suas produções e escutem a de
outros e também que sugira a criança desenhar a partir de observações diversas
(cenas, objetos, pessoas) para que possamos ajudá-la a nutrisse de informações
e enriquecer o seu grafismo. Assim elas poderão reformular suas idéias e
construir novos conhecimentos. Enfim, o desenho infantil é um universo cheio de
mundos a serem explorados.
O desenho está também intimamente ligado com o
desenvolvimento da escrita. Parte atraente do universo adulto, dotada de
prestigio por ser "secreta", a escrita exerce uma verdadeira
fascinação sobre a criança, e isso bem antes de ela própria poder traçar
verdadeiros signos. Muito cedo ela tenta imitar a escrita dos adultos. Porém,
mais tarde, quando ingressa na escola verifica-se uma diminuição da produção
gráfica, já que a escrita (considerada mais importante) passa a ser concorrente
do desenho.
Como podemos perceber a linha de evolução é similar
mudando com maior ênfase o enfoque em alguns aspectos. O importante é respeitar
os ritmos de cada criança e permitir que ela possa desenhar livremente, sem
intervenção direta, explorando diversos materiais, suportes e situações.
Considerações
Finais
Partindo da
pesquisa bibliográfica sobre o desenho infantil, observamos que embora a
abordagem e a nomenclatura usada variem, não existem divergências entre os
autores no que diz respeito ao desenho infantil sendo que este é notadamente,
composto por fases, etapas, estágios, movimentos, qualquer que seja a
nomenclatura usada para definir que o desenho evolui conforme o próprio
crescimento da criança, dentro do seu processo de desenvolvimento como ser
humano. Ou seja, as garatujas ou os rabiscos aparecem na fase sensório-motora,
etapa da teoria do desenvolvimento humano desenvolvida pelo estudioso Jean
Piaget, onde a criança explora materiais e movimentos, não na fase
pré-operatória, onde a criança começa a construir e a representar.
O desenho
infantil é um parâmetro de análise importante o progresso da criança. O seu
desenvolvimento contribui a representação simbólica, para o desenvolvimento
motor, emocional e conseqüentemente, para a alfabetização.
Observou-se na
construção desse artigo que a bibliografia sobre o assunto é restrita,
principalmente no âmbito educacional. Foram encontrados poucos autores e
estudos sobre o assunto. A bibliografia encontrada é em sua maioria de autores
da década de 50 e 60, sendo os principais deles Luquet e Piaget . Diante deste
fato é importante que novas pesquisas sobre o desenho infantil sejam realizadas
com a finalidade de subsidiar o trabalho dos educadores, assim como ampliar as
hipóteses sobre o assunto, a partir de novas descobertas.
A evolução do
desenho infantil está diretamente relacionada a representação simbólica que se
manifesta por volta dos dois anos de idade, na fase pré-operatória. Assim
sendo, este processo é intrínseco ao desenvolvimento das estruturas cognitivas
e motoras necessárias à alfabetização e que são desenvolvidas pela interação
entre a criança e o objeto. São essas interações que privilegiam a capacidade
da criança representar e interpretar.
Diante disso é
possível dizer que o desenho é precedente a escrita, mas que os dois possuem
uma relação de interdependência, pois quanto mais oportunidades as crianças
tiverem de representar e transcrever para o papel toda a sua impressão sobre o
mundo que a rodeia, seus sentimentos, emoções etc, mais ela estará preparada
para se apropriar do sistema de escrita, visto que o mesmo, assim como o
desenho, também é uma forma de representação.
Educadores e
pais devem oportunizar às crianças momentos significativos de interação, dentre
as quais as atividades lúdicas tem um papel fundamental. O desenho, como uma
atividade lúdica, é um dos principais exemplos. Podemos ainda citar o brincar,
os jogos e as dramatizações, todos contribuintes para o desenvolvimento da
representação simbólica.
Referências
Bibliográficas
FERREIRO,
Emília, TEBEROSKY, Ana. Psicogênese
da Língua Escrita. Trad. Diana Myriam Lichtenstein, Liana Di
Marco e Mário Corso. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 1999.
GARDNER,Howard.Arte, Mente e Cerébro:
uma abordagem cognitiva da criatividade. Tradução: Sandra Costa. Porto Alegre:Artes Médicas Sul, 1999.
LUQUET, G. H. O desenho infantil.
Porto: Editora do Minho, 1969.
LUQUET, G.H. Arte Infantil. Lisboa:
Companhia Editora do Minho, 1969.
MÈREDIEU, F. O desenho infantil. São
Paulo: Cultrix, 1995.
PIAGET, J. A formação dos símbolo na criança.
PUF, 1948
PILLAR, Analice
Dutra. Desenho &
escrita como sistema de representação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
RABELLO, Sylvio.
Psicologia do Desenho
Infantil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935.
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