O Conhecimento na Administração e Gestão Pública da
Educação
Sempre que discutimos questões
relativas às escolas públicas perguntamo-nos o “por que” dos baixos níveis de
qualidade educacional e prestação de serviços prestados às comunidades. A isso
se somam a baixa produtividade intelectual e níveis de aprendizado dos alunos,
igualmente baixos.
Verdade ou mito há razões para que se
apresentem, normalmente, de forma insatisfatória ao público que a ela recorre
para a educação de seus filhos e que, nem sempre conhecem. Fazendo, assim,
ideias e críticas muitas vezes inapropriadas para questões tão importantes para
a sociedade, como, por exemplo, sobre as posturas e os atendimentos feitos
pelos gestores educacionais e administradores das escolas, que atendem às
políticas públicas da Educação.
Quanto aos conceitos adotados, Benno
Sander (1995) discorre sobre a construção do conhecimento na administração da
educação, utilizando-se de um esquema analítico com cinco enfoques principais; Jurídico,
tecnocrático, comportamental, desenvolvimentista e sociológico que,
segundo o autor, sugere que o conhecimento da gestão da educação
latino-americana é o resultado de um processo de construção, desconstrução e
reconstrução permanente ao longo da história de suas instituições políticas e
sociais (SANDER, 1995, p.6). Esquema esse que permite identificar as relações
que existem entre as etapas da história e os respectivos modelos adotados na
América Latina, relacionando-as às diferentes fases do seu desenvolvimento.
“Mesmo que seja possível identificar distintas fases ou modelos de
administração da educação na evolução do pensamento pedagógico
latino-americano, na prática, muitas vezes, os modelos se superpõem.” (SANDER,
1995, p.6).
Mesmo considerando a dificuldade em
analisar o assunto, tratado pela imensa bibliografia existente sobre a “evolução do conhecimento no campo da
administração da educação, que vem desde o Século XVI até a consolidação do
processo de industrialização” (SANDER, 1995, p.7), é importante examinar a
contribuição que os estudiosos nos legam sobre a orientação intelectual
dominante em cada época, para entendermos os conceitos de gestão da educação.
Vamos, primeiramente, estudar o Enfoque
Jurídico.
Enfoque Jurídico
Os estudos sobre a administração da
educação na América-Latina remontam o período colonial e vão até as primeiras
décadas do Século XX, esquematizados por diferentes enfoques.
O primeiro que utilizaremos é o enfoque
jurídico. “Um enfoque normativo, vinculado à tradição do direito administrativo
romano e interpretado de acordo com o código napoleônico” (Sander, 1995, p.7). Foram adotadas
nesse período teorias nascidas na Europa, principalmenteFrança, Portugal e
Espanha, uma vez que a América Latina importava muito da cultura europeia,além
da influência exercida pelos imigrantes, que podemos observar, também, na
Educação.
Decorreu disso a construção de uma
infraestrutura legalista propícia para a incorporação dacultura e dos
princípios da administração pública e de gestão educacional com as
característicaseuropeias, dentro do direito romano, com ênfase na ordem, na
regulamentação e na codificação,implicando um sistema fechado de conhecimento
mais integral de administração.
Contrário ao experimentalismo do
direito anglo-americano onde se tem a lei como parâmetroa ser aplicado em
circunstâncias concretas, o legalismo fechado latino (europeu) predica a
leiantecipatória, ou seja, “a lei se converte num ideal a ser alcançado”
(SANDER, 1995, p.8).
Isso implica em que o pensamento
circulante nos meios acadêmicos, e adotado pelos gestores públicos, é o
dedutivo, segundo o qual, o pensador parte de princípios gerais para aplicá-los
emfatos concretos, mesmo que em diferentes situações. Contrariamente, no caso
anglo-americano, adotam o pensamento indutivo que partem das experiências e dos
fatos observados numa série de casos para, depois, formular os princípios
gerais.
Ao enfoque jurídico herdado da Europa,
somam-se os valores próprios do cristianismo da Igreja Católica, trazido, por
exemplo, pelas escolas dos padres jesuítas (Companhia de Jesus), fortemente
enraizados no pensamento dedutivo e no caráter normativo da Ratio Studiorum de Inácio
de Loyola.
Outro elemento, constitutivo da
formação do pensamento administrativo na América Latina, é o positivismo
(desenvolvido na França na primeira metade do Século XIX), protagonizado por August
Comte, cuja ênfase se dá aos conceitos de ordem, equilíbrio, harmonia e
progresso, na organização e no funcionamento das instituições políticas e
sociais.
Esses fatores e essas influências sobre
a Educação manifestam-se nas formas de desenvolvimento do currículo
enciclopédico, na sua metodologia científica de natureza descritiva e empírica
e nas práticas prescritivas de organização e gestão.
Enfoque Tecnocrático
Seguindo o desenvolvimento das teorias
de gestão empresarial, “instalou-se na administração pública o reinado da
tecnocracia como sistema de organização” (SANDER, 1995, p. 11). Nesse sentido
os administradores estarão preocupados em adotar soluções racionais para
resolver problemas organizacionais para um funcionamento eficiente sobre
análises e prescrições pautadas no enfoque tecnocrático, deixando para segundo
plano, os aspectos humanos, as considerações políticas e valores éticos.
Os princípios e elementos da construção
das teorias tecnocráticas têm suas bases na administração clássica das
primeiras décadas do Século XX, com Henri Fayol na França e com Frederick W.
Taylor nos Estados Unidos, bem como a teoria da burocracia de Max Weber.
Esse enfoque tecnocrático assume um
modelo de gestão preocupado com a economia, a produtividade e a eficiência, do
ponto de vista empresarial, adotando-se um modelomáquina.
Com isso, buscam-se soluções técnicas,
pragmáticas e racionais, perfeitamente aceitas no campo da produção industrial
e empresarial, mas que são, equivocadamente, adaptadas às metas e objetivos
políticos no campo da Educação, para resolver problemas da administração
escolar.
Enfoque Comportamental
O enfoque comportamental surge e se
identifica com os movimentos psicossociológicos dasrelações humanas nascidos,
também nos Estados Unidos nos anos de 1930, conceituando “asorganizações como
sistemas cooperativos sustentados pela eficiência e eficácia no desempenhodas
funções administrativas” (SANDER, 1995, p.15). Para tanto, a Psicologia e a
Sociologia são fundamentais para se desenvolverem conceitos e práticas que
levem em consideração os elementos psicológicos das pessoas, em relação ao
grupo em que atua e sua personalidade individual, com sua capacidade de
autocontrole e autoavaliação, bem como, considerando esses comportamentos nas
organizações política, econômica e cultural da sociedade, incorporando a teoria
dos sistemas.
Nesse sentido, consideram-se a dimensão
humana, suas potencialidades e necessidades, a dimensão institucional que
envolve as estruturas internas da escola e a dimensão societária que compreende
a comunidade externa à escola.
Enfoque Desenvolvimentista
O enfoque desenvolvimentista da
administração surge nos Estados Unidos, no período do pós-guerra, na fase de
reconstrução econômica e, é o resultado de vários fatores, dentre os quais se
destacam a necessidade de organizar e administrar os serviços de assistência
técnica e ajuda financeira para os países latinos americanos, o que foi feito a
partir de programas como o Plano
Marshall na Europa e a Aliança para o
Progresso na América.
“Os protagonistas da construção
desenvolvimentista de administração concentram sua atenção nos requerimentos
organizacionais e administrativos para atingir os objetivos do desenvolvimento
nacional, implicando em grandes transformações econômicas e sociais,
argumentando que os métodos tradicionais são limitados e inadequados para
estudo e práticas da gestão pública nos países pobres (...), quando propõem a adoção
de uma perspectiva de administração dedicada à gestão dos programas de
desenvolvimento e aos métodos a serem utilizados pelos governos para atender
interesses econômicos e sociais (SANDER 1995,p.21).
Esse enfoque coincide com o paradigma
economicista e com a fase da educação para o crescimento econômico, inserido no
movimento da economia da educação que versa sobre a formação de recursos
humanos, a teoria do capital humano e o investimento no ser humano como
potencial trabalhador produtivo. Tudo isso, com vistas à taxa de retorno que
essa sociedade oferecerá aos seus financiadores, dentro de uma lógica
econômica.
Em 1958, em Washington, funda-se o
planejamento integrar da educação, que em 1962, na cidade de Santiago, a UNESCO
- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura e a OEA
- Organização dos Estados Americanos e CEPAL - Comissão Econômica para América
Latina e Caribe, consagram o papel da educação como fator de desenvolvimento econômico,
como instrumento de progresso técnico e ascensão social.
Contudo, na década de sessenta, o
pessimismo toma conta dos agentes internacionais que não viam, na proporção de
seus investimentos, melhoria na qualidade de vida, desenvolvimento humano e
equidade social. Percebendo que outros fatores deveriam ser levados em
consideração para reavivar o papel importante da educação no desenvolvimento
econômico, social e cultural, como outras disciplinas das Ciências sociais,
incluindo, política, sociologia e antropologia.
Enfoque Sociológico
Com o objetivo de adequar conhecimentos
científicos às questões políticas e culturais, adaptam-se metodologias e
conceitos mais próximos à realidade latino-americana, num enfoque sociológico
mais crítico, portanto. Na Educação, teremos, como protagonista mais influente do
pensamento crítico latino, o educador Paulo Freire, “que constrói na teoria
pedagógica as relações de dominação e os ideais de libertação que a teoria da
dependência postula nas relações econômicas e políticas internacionais”
(SANDER, 1995, p.26).
A intensão do enfoque sociológico é
considerar a realidade cultural, social e econômica da América Latina, em
oposição ao forte conhecimento herdado das outras culturas externas, como a
europeia e norte-americana, como vimos anteriormente.
Esgotando o enfoque desenvolvimentista
de administração pública e gestão da educação dos autores estrangeiros,
afirmam-se os estudiosos latino-americanos que ensaiam um enfoque sociológico,
concebido a partir da intersecção de conceitos e análises das Ciências sociais
aplicadas.” (SANDER, 1995, p.23).
Considerados inadequados, os enfoques
importados do exterior para nossa realidade latino americana, provavelmente
tenha causado o fracasso das reformas que os teóricos, adeptos de conceitos
europeus, impuseram sobre o conhecimento e a formação dos administradores e
gestores educacionais no Brasil. Isso não quer dizer que os enfoques
economicistas do desenvolvimento não tenham logrado êxito, pelo contrário,
constatam-se, ainda hoje, perfis e posturas de administradores absolutamente
ligadas à eles.
No entanto, é significativo que o
enfoque sociológico tenha se destacado, pelo menos nos debates profissionais,
nos sindicatos dos profissionais da educação e nos meios mais politizados da
sociedade, de forma que venha a fazer diferença na formação de professores e
gestores atualmente.
Postula-se hoje, por teóricos mais
críticos, que não basta a simples rejeição dos enfoques anteriores, mas sim da
conscientização dos problemas que a sociedade e a gestão enfrentam na atualidade.
A ênfase é dada na concepção de perspectivas administrativas voltadas às
realidades latino-americanas, respeitando mais seus valores culturais e
político.
ENVIO DOS COLEGAS!.
NÃO É DE MINHA AUTORIA.
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