sábado, outubro 20, 2018

RESUMO DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA

ENVIADO PELOS COLEGAS...


Aspectos Históricos:

     Ao longo da história da Humanidade, não há registro, até por volta de seis mil a.C. (Rossetto et al, 2006), de como viviam as pessoas portadoras de alguma deficiência. Na Grécia antiga, as crianças e adultos eram preparados para servir ao Exército com o objetivo de defender o Estado. As crianças que nasciam com algum tipo de deficiência eram lançadas, ribanceira abaixo, no abismo localizado na cadeia de montanhas Tahgetos, próximo de Esparta. Isso acontecia porque o Estado entendia que essas crianças não reuniam condições para servi-lo, uma vez que não eram saudáveis, fortes e
belas. Em Atenas, a criança que nascesse com deficiência não tinha tratamento diferente dos espartanos. O extermínio era tido como um procedimento comum, com a conivência e determinação dos filósofos da época, e os próprios pais tinham a incumbência de matar o filho quando este nascesse com alguma “anormalidade”. Na Roma antiga, até meados do século V a.C., o tratamento oferecido às crianças que nasciam com deficiência era semelhante ao da Grécia, ou seja, os pais tinham permissão para matar os filhos com alguma deformidade.

     Após o século II a.C., com a profissionalização do exército romano, as crianças que nasciam com deficiência passaram a contar, por parte do Estado e da sociedade, com certa tolerância. Sendo assim, alguns chegaram a ser imperadores, como Tiberius, Servius Galba, Aules Vitelus. No entanto, os pobres viviam uma situação bem diferente, pois ou eram abandonados à própria sorte ou eram eliminados.

     Na Idade Media, com a divisão das classes sociais, a sociedade passou a ser composta por sacerdotes, guerreiros e trabalhadores. O controle era exercido pelos dois primeiros, sustentados pelos trabalhadores. Deixou-se de eliminar as pessoas com deficiência, porque o Cristianismo não aceitava essa prática. As pessoas com deficiência passaram a ficar segregadas em hospitais ou asilos.
     A princípio mantidos pela Igreja, com o desenvolvimento social,esses hospitais foram sendo secularizados.
Como o número de hospitais não era suficiente para atender a todos os indivíduos com deficiência, alguns eram aceitos para serem bobos da corte ou mesmo eram aceitos por razões supersticiosas. Outros tantos ficavam perambulando pelas ruas (Rossetto et al., 2006). Com o ritmo acentuado do desenvolvimento ocorrido através dos séculos que se seguiram, o trabalhador foi sendo afastado da manufatura de produtos e do campo e levado a migrar para os grandes centros urbanos. “O capitalismo está assentado sobre os pressupostos da propriedade privada, dos meios de produção, na relação assalariada do trabalho” (Rossetto et al., 2006, p.106). Na busca incessante pela produção e pelo lucro cada vez maior, a pessoa com deficiência é vista como incapaz, incompetente para suprir tal demanda de mão de obra e sofre as consequências das barreiras que lhe são impostas por esse processo perverso. Porém não é apenas no âmbito do mercado de trabalho que se verifica esse sistema pautado no preconceito, na discriminação e na formação de barreiras, principalmente as atitudinais.
No âmbito escolar, esse sistema perverso toma dimensões significativas, pois a grande maioria de crianças e adolescentes com deficiência é excluída, negligenciada em seu processo de escolarização.
A legislação brasileira já vem, desde a década de 90, sendo influenciada pelos documentos e tratados internacionais, dos quais o Brasil é signatário, voltados para a promoção de políticas educacionais inclusivas, com a perspectiva de uma educação de qualidade para todos. A Declaração de Salamanca (1994) traz o princípio de que as escolas devem acomodar todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas e outras. As escolas devem incluir crianças com deficiência, as superdotadas/com altas habilidades, crianças em situação de rua e que trabalham, crianças de população nômade, as pertencentes a minorias étnicas ou culturais e crianças de outros grupos em condição de desvantagem ou marginalizados.
A Lei de Diretrizes e Bases – LDB (Lei nº 9394 de 1996) – garante a proposição de currículos, métodos, recursos educativos e organizações específicos para atender às necessidades do aluno, garantindo-lhe o acesso e a permanência numa escola com qualidade. Plano Decenal de Educação para Todos. A própria Constituição Federal (1988), no artigo 208, inciso III, do Capítulo III, garante a educação como direito de todos, e a Constituição do Estado de São Paulo (1989), no artigo 239 § 2º, assegura o direito ao atendimento especializado aos alunos com necessidades educacionais especiais. Apesar da correlação existente entre a idade dos alunos e o nível e as modalidades de ensino, as leis e regulamentos educacionais garantem o direito de todo cidadão de frequentar a escola regular em qualquer idade. No entanto, também é uma obrigação do Estado garantir os meios para que os jovens e adultos que não tenham frequentado a escola na idade adequada possam acelerar seus estudos e alcançar formação equivalente à educação básica. Apesar disso, o número de crianças e adolescentes com algum tipo de deficiência matriculados nas escolas da rede de ensino, tanto pública quanto privada, não chega a 400 mil alunos. Não é preciso fazer muitos cálculos para concluirmos que a maioria das crianças com deficiência ainda está fora da escola. Mesmo quando se enfatiza que estamos vivendo um momento favorável à “inclusão”, verificamos que a exclusão dessas pessoas ainda é uma realidade ampla e generalizada.
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.
A legislação brasileira tem acompanhado o percurso de outros países; possui uma das legislações mais abrangentes, equiparando-se a países mais desenvolvidos, buscando, dessa forma, assegurar a promoção de oportunidades educacionais na escola comum.
Nesse sentido, a Educação Especial, como modalidade de ensino que deve ser promovida sistematicamente nos diferentes níveis de ensino, presta-se ao atendimento de pessoas com necessidades educacionais especiais, preferencialmente na rede regular de ensino, com o objetivo de propiciar ao aluno o desenvolvimento de suas potencialidades, autonomia e independência, dentro dos princípios da educação inclusiva e assegurados por um Projeto Político Pedagógico. Em 1961, a Lei nº 4.024/61 - de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN - já afirmava o direito dos excepcionais à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino.
A LDBEN foi alterada pela Lei nº. 5.692/71, que definiu tratamento especial aos alunos com deficiências físicas, mentais, os superdotados e aqueles que se encontravam em atraso quanto à idade regular de matrícula.
Ainda dentro de iniciativas isoladas do Estado, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial (1973). Com isso, o MEC passou a responsabilizar-se pela Educação Especial
em todo o território Nacional, impulsionando as ações integracionistas voltadas tanto às pessoas com deficiência como às superdotadas.
Em 1988, foi promulgada a Constituição Federal, tendo os objetivos fundamentais definidos nos seguintes artigos:
No artigo 55, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069/90, determina que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. Assegura ao adolescente com deficiência o trabalho protegido, garantindo seu treinamento e colocação no mercado de trabalho, e o incentivo à criação de oficinas abrigadas. Ainda nos anos 90, ocorreram dois eventos importantes - Conferência de Jomtien (1990) e a Conferência Mundial de Educação Especial (1994) -, nos quais foram elaborados os documentos: Declaração Mundial sobre Educação para Todos e Declaração de Salamanca, respectivamente, os quais contribuíram para a formulação das políticas públicas da educação inclusiva.

O Plano Nacional de Educação – PNE estabelece objetivos e metas para que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, produzindo uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana.
Decreto Lei nº 3956 de 2001 promulgou a Convenção Interamericana para a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência –
Convenção da Guatemala (1999).
A Resolução CNE/CP nº 1/2002 estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Formação de Professores da Educação Básica, definindo que as instituições de ensino superior devem prever, em sua organização curricular, formação docente voltada para a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais. 

A Língua Brasileira de Sinais – Libras
foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão, e determinou-se que fossem garantidas formas de apoiar sua difusão e seu uso, por meio da inclusão de Libras no currículo dos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia. Através da Portaria nº. 2678/02, o MEC aprovou as diretrizes e normas para o uso, ensino, produção e difusão do sistema Braille em todas as modalidades de ensino. A legislação sobre acessibilidade foi impulsionada pelo Decreto nº 5.296/04, que regulamentou as Leis nº. 10.048/00 e 10.098/00, respectivamente, promovendo a acessibilidade urbana para as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. O Decreto nº 5.626/05, que regulamentou a Lei nº 10.436/02, visando ao acesso à escola dos alunos surdos, dispõe:
“sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a formação e a certificação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua Portuguesa como
segunda língua para surdos e a organização da educação bilíngue no ensino regular” (MEC, 2010, p. 14).
Em 2005, foram implantados os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S em todo o território nacional para o atendimento educacional especializado, orientação às famílias e formação continuada dos professores, com o objetivo de oferecer atendimento aos alunos na rede pública de ensino.
A Organização das Nações Unidas – ONU aprovou, em 2006, a Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência,assegurando um sistema de educação inclusiva,em todos os níveis de ensino,em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social.
O lançamento do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (2006) apresenta o objetivo de contemplar, no currículo da educação básica, temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem acesso a e permanência na educação superior. Em 2007, foi implantado o Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE, Decreto nº 6.094/07 -, “que estabelece nas diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo seu ingresso nas escolas da rede pública”.
O “PDE tem como eixos a formação de professores para a educação especial, a implantação de salas de recursos multifuncionais, a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, acesso e permanência das pessoas com deficiência na educação superior e monitoramento do acesso à escola dos favorecidos pelo Benefício de Prestação Continuada – BPC”. (MEC, 2010, p. 15-16).
A Resolução CNE/CEB nº 4, de 02 de outubro de 2009, regulamenta o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, Modalidade Educação Especial.
Entendese como Atendimento Educacional Especializado o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular (BRASIL,
2009).
A Resolução CNE/CEB Nº 4, de 13 de julho de 2010, CNE/CEB, define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica.
Âmbito Municipal 
O Decreto Nº 45.415, de 18 de outubro de 2004, estabelece diretrizes para a Política de Atendimento a Crianças, Adolescentes, Jovens e Adultos com Necessidades Educacionais Especiais no Sistema Municipal de Ensino, São Paulo.
O Decreto Nº 45.652, de 23 de dezembro de 2004, dá nova redação ao parágrafo único do artigo 7º do Decreto nº 45.415, de 18 de outubro de 2004, que estabelece diretrizes para a Política de Atendimento a Crianças, Adolescentes, Jovens e Adultos com Necessidades Educacionais Especiais no Sistema Municipal de Ensino.
Além das Leis, Resoluções e Decretos, enfatizamos que vários documentos internacionais contribuíram para a elaboração, implantação e implementação das Leis, Resoluções e Decretos e Normas Técnicas vigentes em nosso país.
Documentos Internacionais
• Declaração Universal dos Direitos Humanos – dezembro de 1948 - documento básico
das Nações Unidas, enumera os direitos que todos os seres humanos possuem.
• Recomendação nº 99/1955 - relativa à reabilitação profissional das pessoas com
deficiência, princípios e métodos de orientação vocacional e treinamento profissional,
como meio de aumentar oportunidades de emprego para as pessoas com deficiência,
emprego protegido.
• Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes (ONU) – Resolução nº 3.447/1975.
• Declaração de Sunderberg (1981) – Conferência Mundial sobre Ações e Estratégias
para Educação, Prevenção e Integração. • Programa de Ação Mundial para as Pessoas
com Deficiência (ONU) – 1982.
• Declaração Mundial Sobre Educação Para Todos – Conferência de Jomtien – 1990.
• Resolução nº 45 da ONU, 1990.
• Dia Internacional das Pessoas com Deficiência – ONU – dia 03 de dezembro adotado
como o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, 1992.
• Declaração de Salamanca – sobre Princípios, Política e Prática em Educação Especial,
delegados da Conferência Mundial de Educação Especial, 1994.
• Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com deficiência – ONU,
Resolução nº 48/96.
• Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência – ONU, Guatemala, 1999.
• Carta para o Terceiro Milênio – os direitos humanos de cada pessoa, em qualquer
sociedade, devem ser reconhecidos e protegidos, 1999.
• Declaração de Pequim sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência no Novo Século,
Pequim, 2000.
• Declaração de Dakar - Educação Para Todos (EPT) para cada cidadão e cada
sociedade, cidade de Dakar, 2000.
• Declaração de Madri - a não discriminação e a ação afirmativa resultam em inclusão
social. Ano Europeu das Pessoas com Deficiência, 2003.
• Declaração Internacional de Montreal sobre a Inclusão, 2001.
• Declaração de Verona sobre o envelhecimento das pessoas com deficiência, Itália,
2002.
• Declaração de Quito – Equador, normas e padrões existentes em relação aos direitos
das pessoas com deficiência, 2003.
• Declaração de Tenerife – vida independente, eliminação de discriminação contra
pessoas com deficiência.
• Carta Mundial do Direito à Cidade - elaborada por um conjunto de movimentos sociais,
ONGs, associações de profissionais, fóruns e redes nacionais e internacionais da
sociedade civil comprometidos com as lutas sociais por cidades mais justas,
democráticas, humanas e sustentáveis.
• Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual, Montreal, 2004.
• Resolução CEI 138. R11 – Organização Pan-Americana, 2006.
• Declaração Decênio das Américas pelos Direitos e Dignidade das Pessoas Portadoras
de Deficiência (2006-2016), Santo Domingo, 2006.
• Resolução da Convenção Internacional de Deficiência – ONU, 2006 - direitos das pessoas com deficiência, abrangendo a área civil e política, inclusão social, saúde e educação, emprego e proteção social.
Nossas políticas públicas de educação especial estão entre as mais avançadas do mundo. No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência foi uma das ações inovadoras, ainda no período imperial, de D. Pedro II. Em 1854, foi criado o Instituto Imperial dos Meninos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant - IBC. Três anos depois, foi criado o Instituto dos Meninos Surdos-mudos, atual Instituto Nacional da Educação dos Surdos – INES. Já no século XX, em 1926, foi fundado o Instituto Pestalozzi; em 1945, Helena Antipoff criou a Sociedade Pestalozzi, oferecendo o primeiro atendimento educacional especializado aos superdotados.

A primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais foi fundada em 1945, para o atendimento às pessoas com deficiência mental.
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e superdotação/altas habilidades nas escolas regulares da rede de ensino, garantindo-lhes a promoção de respostas adequadas às suas necessidades educacionais especiais (BRASIL, 2010, p. 19).
conhecer o outro e, assim, ter o privilégio de estar, conviver e compartilhar a vida com
outras pessoas diferentes de nós, atendendo, de forma acolhedora, a todas as pessoas,
com ou sem deficiência: aquelas portadoras de transtornos mentais ou de
superdotação/altas habilidades, as que fazem parte das minorias, crianças e adolescentes
discriminados por quaisquer outros motivos (MEC, 2010, p.19).
Temos que enfatizar que a inclusão escolar não é responsabilidade do professor única e
exclusivamente, mas de toda escola. Portanto a escola, como um todo, tem que se
mobilizar para acolher o aluno. É, portanto, um processo abrangente, uma vez que
considerar a deficiência de uma criança ou de um jovem como mais uma das muitas
características diferentes que os alunos podem ter pressupõe que todas as crianças
tenham as mesmas oportunidades de acesso, de permanência e de aproveitamento na
escola, independentemente de qualquer característica peculiar que possa apresentar. É
esse o fundamento básico da escola inclusiva, ou seja, garantir a igualdade de
oportunidades, o respeito à diversidade multicultural do nosso país. Nesse sentido,
Mantoan (2003) argumenta que a escola que aceita e convive com a diversidade
possibilita uma educação para a verdadeira cidadania, com o que toda a comunidade
escolar se beneficia.
Como obter a educação inclusiva de fato?
Stainback e Stainback (1999) salientam que, para que a educação inclusiva seja
implementada, é necessário que os gestores estejam comprometidos e envolvidos com a
reforma, a reestruturação e renovação das unidades de ensino. Mantoan (2003) defende
que é necessária a flexibilidade dos critérios de admissão e de permanência nos
ambientes escolares, mantendo um ensino de qualidade.
Ter a deficiência não é o fator preponderante, que torna difícil a sua existência, permeada
invariavelmente por situações onde estão presentes o preconceito e o estigma. Neste
sentido, voltamos a questionar, como lidar com as atitudes sociais que adotam formas de
classificação para distinguir e separar as pessoas,categorizando-as entre duas posições
opostas – capazes e incapazes, rápidos e lentos ou competentes e incompetentes?
Perfeitos e imperfeitos? Para AMARAL (1995, 67-68), a deficiência primária engloba a
deficiência propriamente dita (dano ou anormalidade de estrutura ou função) e a
incapacidade (restrição\perda de atividade). Refere-se, efetivamente, a fatores
intrínsecos, à deficiência propriamente dita, envolvendo a díade pessoa e corpo, ou seja,
a limitação que o indivíduo possui. Assim, para Amaral (1995), a deficiência secundária
refere-se a fatores extrínsecos, responsável principal pelo impedimento do
desenvolvimento do indivíduo, que se torna aprisionado na rede das significações sociais,
com seu rol de consequências, como atitudes, preconceitos, estereótipos, que culminam
legitimando a diferença\deficiência, como consequência, provoca a exclusão, estereótipo,
discriminação e preconceito. Assim, segundo a autora, o preconceito nada mais é que
uma atitude favorável ou desfavorável, positiva ou negativa, anterior a qualquer
conhecimento, ou seja, neste sentido o desconhecimento é a matéria prima do
preconceito, que contribui de forma considerável para a manutenção das atitudes
preconceituosas e das leituras estereotipadas tanto sobre a diferença como,
principalmente, a deficiência. Gerando distorções acerca da deficiência e da própria
pessoa com deficiência.
O estereótipo refere-se à concretização de um julgamento qualitativo, baseado no
preconceito, podendo ser, também, anterior à experiência pessoal. (AMARAL, 1995, 120)
Já o estigma refere-se à A situação do indivíduo que está inabilitado para a aceitação
social plena e, consequentemente, promove uma generalização e a desumanização da
pessoa que possui algum tipo de diferença ou uma deficiência (AMARAL, 1995, p. 121).
Vimos, na Unidade I, que as pessoas com deficiência\diferença são vistas como um
fenômeno, fazendo com que os membros da sociedade sintam-se ameaçados, daí a
necessidade de defender-se, atacando as pessoas que os ameaçam, por esta razão, ao
longo da história da humanidade, eles foram sacrificados e exterminados – como na
Grécia antiga . Hoje ainda vemos situações de ataque frente o diferente, por exemplo, o
ataque a homossexuais, índios, mendigos. Diante do deficiente também temos atitudes de
preconceito, à medida que os consideramos como vilões (culpando-os pela sua
deficiência) ou como vítimas ou coitadinhos. Ou ainda, quando fugimos ao chamado “problema”, por meio da rejeição – que pode estar presente nas situações de superproteção excessiva, que impede o desenvolvimento, aquisição da autonomia e
independência da pessoa com deficiência. A forma mais explícita da rejeição é o abandono, mas este também pode ocorrer de forma implícita, quando não há investimento de cuidados básicos, carinho e afeto para com a pessoa com deficiência ou o diferente. A outra forma de rejeição é a negação, em que tentamos mascarar a realidade (diferença\ deficiência), causando prejuízo ao diferente, à pessoa com deficiência, aos seus familiares e até mesmo aos profissionais que atuam junto a elas. Na escola, temos hoje a vigência de uma legislação que apregoa uma educação de qualidade para todos, inclusive para as pessoas com deficiência. Assim, dentro da perspectiva inclusiva, é necessária a flexibilidade dos critérios de admissão e de permanência nos ambientes escolares, mantendo um ensino de qualidade (Mantoan, 2003).
Mas quem são os alunos que merecem receber um ensino de qualidade?
Para sabermos quem são esses alunos, torna-se importante conhecermos as definições de deficiência e sabermos como lidar com eles. Por outro lado, também é importante conhecermos as causas das deficiências, pois muitas ações poderiam ser desencadeadas de modo a evitar a sua ocorrência,como os programas de prevenção contra as drogas e o álcool,vacinação das mulheres em idade fértil contra rubéola,programas de assistência materno-infantil,saneamento básico, segurança no trabalho,dentre outras medidas, que caracterizam o que se denomina de prevenção
primária, contemplando as questões relacionadas à deficiência, ou seja, o impairment. A prevenção no nível secundário,referido à incapacidade propriamente dita (disability),seriam todas as ações que reduzem a duração ou revertem os efeitos de problemas já existentes que podem resultar em deficiência,como gravidez de risco,diagnóstico precoce, rápido encaminhamento aos recursos específicos,programas de estimulação precoce, tanto das áreas da saúde como da educação. Chamamos de prevenção terciária (handcap) as ações que reduzem as consequências dos problemas gerados pela deficiência e melhora o funcionamento da pessoa,conscientização para as barreiras arquitetônicas e,principalmente,as barreiras atitudinais, superação dos aspectos psicossociais os programas de escolarização, de qualificação profissional para a pessoa com deficiência, além dos programas de reabilitação.
Quanto à deficiência propriamente dita, Amaral (1995, p. 63), define:
Deficiência é relativa a toda alteração do corpo ou aparência física, de um órgão ou de uma função, qualquer que seja sua causa (congênita ou adquirida); em princípio significam perturbações no nível de órgão. A deficiência representa a exteriorização de um estado patológico e, em princípio, reflete perturbações no nível de órgão (impairment). Assim, as perdas ou alterações podem ser temporárias ou permanentes e incluem a existência ou ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou outra estrutura do corpo, incluindo a função cognitiva e intelectual.
Deficiência Auditiva
Tipo de perda que compromete dois importantes aspectos da comunicação humana –
emissão (fala) e recepção (audição), podem ser parcial ou total, das possibilidades
auditiva,sonoras,variando em graus e níveis, desde uma perda leve até a perda profunda
da audição.
A utilização do uso de aparelhos de amplificação sonora da terapia fonoaudiológica e a
Língua Brasileira de Sinais – Libras possibilitam um melhor aproveitamento dos resíduos
auditivos e consequentemente das atividades escolares e sociais.
Deficiência Motora ou Física
A deficiência motora ou física refere-se ao comprometimento do aparelho locomotor que
compreende os sistemas muscular, nervoso e osteoarticular, configura-se ”(...) na
alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o
comprometimento da função física, abrangendo, dentre outras condições, amputação ou
ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidades estéticas e as que
produzem dificuldades para o desempenho disfunções” (BRASIL, MEC\SEESP, 2006).
Engloba vários tipos de limitação motora:
- PARAPLEGIA : paralisia total ou parcial dos membros inferiores, comprometendo a
função das pernas, tronco e outras funções fisiológicas.
– Tetraparesia : paralisia total ou parcial do corpo, comprometendo a função dos braços
e pernas, o grau de comprometimento depende da altura da lesão.
- HEMEPARESIA : paralisia total ou parcial do corpo, comprometendo a função dos
braços e pernas, o grau de comprometimento depende da altura da lesão.
– PARALISIA CEREBRAL : termo amplo que designa o grupo de limitações motoras
resultantes de uma lesão no sistema nervoso central.
– Amputação : : perda total ou parcial de um membro do corpo pode ser congênita ou
adquirida.
Deficiência Visual
Abrange desde a cegueira até a visão subnormal (ou baixa visão), que é uma diminuição
significativa da capacidade de enxergar, com redução importante do campo visual e da
sensibilidade aos contrastes e limitação de outras capacidades. Essas pessoas
necessitam de apoios, como o sistema Braille para a leitura e escrita:
Reglete para a escrita:
E o Sorobã para os cálculos matemáticos:Além dos softwares específicos para que as
pessoas com este tipo de deficiência podem se beneficiar com o uso dos computadores.
Deficiência Intelectual
Segundo a definição adotada pela American Association on Intellectual and Development
Disabilites – AAIDD (Associação Americana de Deficiência Intelectual e do
Desenvolvimento), deficiência intelectual é o“(...) funcionamento intelectual
significativamente abaixo da média, oriundo do período de desenvolvimento,
concomitante com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa, ou
da sociedade, nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades
sociais, desempenho na família e comunidade, independência na locomoção, saúde e
segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho”.
As pessoas com a deficiência intelectual têm limitações para as atividades de vida diária,
tais como: vestir-se, fazer a higiene pessoal. A condição de desvantagem (handicap) é um
contínuo, significando que ocorre em vários graus de dificuldade, ou seja, de acordo com
cada indivíduo.
Deficiência Múltipla
É a associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias
(intelectual/visual/ auditiva/física), com comprometimentos que acarretam consequências
no seu desenvolvimento global e na sua capacidade adaptativa.
Surda Cegueira
É uma deficiência única que apresenta as deficiências auditiva e visual concomitantes, em
diferentes graus. Para interagir com as pessoas e o ambiente, a pessoa surda cega
desenvolve diferentes formas de comunicação.
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento
O autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento, afetando especificamente o
aprendizado, com a característica de permanecer por toda a vida. Presente desde o
nascimento e se manifesta invariavelmente antes dos 30 meses de idade.
Caracteriza-se por
• Incapacidade de desenvolver o contato olho a olho
• Jogos em grupos
• Comportamento ritualístico e agregado a rotinas anormais de vida
• Resistência a mudanças
• Ligação a objetos estranhos, padrão de brincar estereotipado
o Respostas anormais a estímulos auditivos e visuais
o Problemas graves quanto à compreensão da linguagem falada
o A linguagem custa a aparecer e, quando isto acontece nota-se a ecolalia
o Uso gramatical imaturo
o Inabilidade de usar termos abstratos, incapacidade na utilização social, tanto da
linguagem verba como corporal.
Outras características:
Diminuição da capacidade de pensamentos abstratos simbólicos, ou jogos imaginativos.
Possuem desempenho melhor na execução de tarefas que requerem memória simples ou
habilidade visuoespacial, comparando-se com aquelas que requerem capacidade
simbólica ou linguística. Também apresentam dificuldade de estabelecer relações
produtivas com o mundo e com os outros. Em linhas gerais, o autismo não é considerado
uma doença ou uma deficiência em si, ou ainda um tipo de psicose. O autismo é um
transtorno do desenvolvimento da cognição causado por lesões no cérebro. Existem
muitos fatores etiológicos: genéticos, acidentes pré ou perinatais, infecções, síndromes
neurológicas. Portanto, é um transtorno do desenvolvimento em que a atividade e a
participação são dois obstáculos importantes que impedem sua participação na vida
social. O grau de desvantagem resultante do transtorno também é dependente de fatores
ambientais (Nilsson, 2003).
Dentro da escola inclusiva, esses alunos precisam participar ativamente de todas as
atividades na escola e na comunidade, assim como terem respeitadas as suas diferenças
no que se refere ao estilo e ao ritmo da aprendizagem. A Escola Inclusiva entende esses
alunos como pessoas que apresentam desafios à capacidade dos professores e das
escolas para oferecer uma educação para todos, respeitando a necessidade e
diversidade de cada um.
Como Vencer as Barreiras do Preconceito?
A pessoa com deficiência, ao longo do percurso histórico,e até hoje, apesar de todas as
mudanças ocorridas,ainda é vista como alguém que precisa de ajuda para obter alimento,
abrigo e segurança. Obviamente quando pensamos em quem são as pessoas,
imediatamente, pensamos naquilo que as torna diferentes das demais, isto é, a própria
deficiência. Porém, nem sempre estamos ou nos sentimos preparados para enfrentar
essa situação. Muitos apresentam as mais variadas justificativas, no entanto, na maioria
das vezes isso acontece porque não conseguimos nos posicionar frente às pessoas com
deficiência. O nascimento de uma criança com deficiência pode provocar várias reações e
sentimentos dentro da família, bem como pode mudar a estrutura familiar estabelecida
antes mesmo de ela nascer. O impacto sentido pela família, com a chegada de uma
criança com deficiência, é muito intenso. Esse momento traumático pode causar uma
forte desestruturação na estabilidade familiar, que após o impacto do momento inicial,
quando as reações: choque, da negação, raiva, revolta e da rejeição, deverá buscar a sua
reorganização interna, que por sua vez, depende de sua estrutura e funcionamento
enquanto grupo e, também, de seus membros individualmente (Silva e Dessen, 2003). O
ambiente familiar pode comprometer a reorganização familiar após a notícia da
deficiência, por outro lado, quanto maior for o apoio mútuo entre o casal, melhor são as
possibilidades da reorganização interna da família, assim, as famílias reestabelecem o
seu equilíbrio de maneira variada, dependendo dos recursos psicológicos utilizados, da
qualidade das interações e relações entre seus membros e dos familiares e pessoas
próximas, no que tange às práticas psicossociais de cuidados e a promoção de um
desenvolvimento adequado e saudável da criança.
A influência da família no desenvolvimento da criança se dá, através das relações
estabelecidas, pois esta “representa a forma de relação mais complexa e de ação mais
profunda sobre a personalidade humana, dada a enorme carga emocional das relações
entre seus membros” (REY e MARTINEZ, 1989, p. 143).
e um ambiente de crescimento e desenvolvimento, principalmente das crianças com
deficiência, que invariavelmente, necessitam de atenção e cuidados específicos. Devido à
dinâmica das suas relações, o funcionamento da família muda de acordo com as
alterações que podem ocorrer em um de seus membros ou no grupo como um todo (Silva
e Dessen, 2003). Neste sentido, a elaboração de programas preventivos, com ênfase nas
interações familiares e demais membros familiares, contribuem para uma melhor
compreensão do desenvolvimento das crianças com deficiência e o funcionamento de
suas famílias.
Invariavelmente, reagimos com preconceito e discriminação, isto porque tememos o que é
diferente de nós mesmos. Desta forma, não vejo outra forma de romper com esse ciclo
vicioso do preconceito e da discriminação senão através do rompimento das barreiras
atitudinais.
Assim, consequentemente,será mais fácil o rompimento,também, das barreiras
arquitetônicas, visando um ambiente escolar acessível. Desta forma, será possível que as
pessoas com deficiência, inclusive aquelas que se utilizam de cadeira de rodas, possam
usar o mobiliário (cadeiras, mesas,balcões,bebedouros,quadros de avisos, e outros
equipamentos), possam movimentar-se por todo o espaço escolar,desde a entrada
principal,salas de aula, sanitários, pátio, quadra, parques.
E ainda bibliotecas,laboratórios,lanchonetes,pelo entorno da escola e pela comunidade na
qual está inserida. Observando-se a localização de guias rebaixadas para pessoas em
cadeira de rodas, travessia de pedestres sinalizada,semáforos sonoros para cegos,
pontos de ônibus que permitam o embarque e desembarque seguros, calçadas
conservadas. Considero importante o rompimento das barreiras atitudinais, aquela que
nos faz perceber que os alunos com deficiência não são o problema. Dentro da escola
inclusiva é necessário o respeito às suas potencialidades,oferecendo respostas
adequadas aos desafios apresentados pelo aluno e à capacidade dos professores.
É importante,ainda, que o profissional,na escola, respeite a necessidade e especificidade
de cada aluno, vendo-o como uma pessoa e não apenas dar ênfase a deficiência que ele
apresenta.
Avaliação e Planejamento das Práticas Inclusivas
A expressão “necessidades especiais” vem sendo amplamente utilizada e, de certa forma,
inclui todas as crianças avaliadas como apresentando algum tipo de necessidade
educativa especial (Bueno, 1997, p.41), uma vez que todos nós apresentamos algum tipo
de necessidade especial.
A deficiência, principalmente a intelectual, vem permeada da rejeição social. Glat (1995)
afirma que a rejeição da sociedade às pessoas com deficiência intelectual é reflexo da
própria fragilidade social, pois tudo que é diferente e anormal chama a atenção, causando
diferentes reações. Isso porque essas pessoas, geralmente, possuem características
diferenciadas, quando comparadas às pessoas sem deficiência. Crochik (1997) enfatiza
que a diferença é inerente ao conceito de deficiência; traz em si mesmo a possibilidade do
preconceito, caracterizado pela aversão ao diferente. De acordo com o MEC, inspirado no
modelo proposto pela AAMR, a definição de deficiência intelectual, com enfoque
multidimensional, enfatiza a funcionalidade do sujeito e o aspecto orgânico da deficiência,
o que não deixa de estar coerente com as definições que prevalecem na nossa
sociedade. O enfoque multidimensional inclui a função intelectual e as habilidades
adaptativas, psicoemocional, física e etiológica, além do aspecto ambiental. Nesse
contexto, ainda prevalece o modelo médico e patológico da deficiência. As causas da
deficiência intelectual são diversas: há aquelas que possuem uma etiologia orgânica
conhecida; outras que se devem a fatores culturais e familiares; e há, também, as
diferentes classes de desordens genéticas causadoras das síndromes de: Down,
Angelman, Prader-Willi, X-Frágil, e os erros inatos do metabolismo, como a fenilcetonúria.
No entanto, ainda existem aquelas que não têm uma causa específica e conhecida. Por
outro lado, o conceito de deficiência intelectual (DI) deve englobar não somente os
aspectos socioeconômicos, mas também o político-cultural, buscando entender as
relações existentes entre o indivíduo com DI e o ambiente no qual está inserido. Dessa
forma, o ambiente exerce um papel de primordial importância para as crianças, que nele
habitam e adquirem a capacidade de desenvolver, dentro do âmbito cultural, através de
suas crenças, valores e padrões.
É nesse ambiente que a criança reúne condições de adquirir suas habilidades. Caso isso
não aconteça, configura-se a construção da DI.
O ambiente, com seu dinamismo, não deve ser encarado como uma entidade estática e
periférica em relação ao desenvolvimento humano. Embora a criança com DI tenha
limitações na sua capacidade intelectual, ela não está imune às transformações que
ocorrem em seu ambiente.
Vygotski (1997) afirma que o ambiente possui as fontes necessárias para o
desenvolvimento infantil, bem como apresenta traços humanos específicos que são
característicos do desenvolvimento sócio-histórico da humanidade. Portanto, o ambiente
tem uma importância primordial para o desenvolvimento infantil, das crianças com ou sem
deficiência, no que diz respeito à organização de suas atividades de vida diária e ao
processo de estimulação. Por isso é fundamental que se compreenda como o ambiente
influencia o desenvolvimento da criança, principalmente daquela com deficiência. Para
Vygotski (1997),
“a influência do ambiente sobre o desenvolvimento da criança, ao lado de outros tipos de
influências, também deve ser avaliada levando-se em consideração o grau de
entendimento, a consciência e o insight que está ocorrendo no ambiente em questão” (p.
343).
Temos que pensar o desenvolvimento da criança como um todo funcional, em que os
diversos processos psicológicos, cognitivo, afetivo, emocional, motivacional e social
atuam de forma coordenada uns com os outros.
A princípio, não há diferenciação entre a criança com e sem deficiência, uma vez que
ambas estão em contínua interação com o meio ambiente. No entanto, o modo como a
criança pensa e usa uma habilidade intelectual depende dos modelos culturais de
competência, enquanto o que ela sente e como atua em relação às pessoas com as quais
possui vínculo depende dos modelos culturais de relações interpessoais.
O ambiente da escola constitui mais um espaço de socialização para a criança com
deficiência. Muito se tem discutido a respeito da inclusão da criança deficiente em
ambiente coletivo, mostrando a sua importância e necessidade. Aranha (1995) afirma
que, ao impedir a integração social do deficiente, há perdas tanto para a pessoa
(deficiente) em desenvolvimento como para a sociedade. Segundo a autora, todos
perdemos em consciência, em comportamento e,consequentemente, em possibilidade de
transformação(p.70).
Apesar da importância da escola, não devemos esquecer que as intervenções devem
ocorrer, primeiro, na família enquanto um grupo em desenvolvimento. Contudo, não basta
somente estudar a família; é preciso focalizá-la inserida dentro de um contexto ecológico
mais amplo, se quisermos, de fato, compreender a sua dinâmica e funcionamento.
Em relação a esse aspecto, muito ainda tem que ser feito em se tratando de famílias com
crianças que apresentam algum tipo de deficiência. É importante ressaltar a necessidade
de oferecermos mais orientação para as famílias dessas crianças, as quais devem
receber mais informações sobre o tipo de deficiência que a criança apresenta e suas
consequências para o seu desenvolvimento, bem como sobre os recursos necessários
para favorecê-lo.
Nesse contexto, as políticas públicas têm um papel muito importante, especialmente para
as famílias de baixa renda, uma vez que o gasto com profissionais e com atendimento
especializado torna-se oneroso. Merece ser destacado, aqui, um programa de
estimulação precoce que faz parte dos diversos tipos de atendimentos planejados pelo
MEC para beneficiar as crianças de zero a três anos com atraso no desenvolvimento ou
com deficiências (física, intelectuaI,visual, auditiva, múltipla). Esse programa tem, em sua
essência,um papel preventivo, buscando intervir nas diversas áreas do desenvolvimento
infantil: motora, cognitiva, sensório- perceptiva,socioafetiva e da linguagem (MEC, 1995b).
Além do microssistema da família, há também o sistema escolar,que constitui mais um
espaço de socialização para a criança com deficiência. Estudos demonstram a
importância da inclusão da criança com deficiência em um ambiente coletivo, como a
escola, sendo este extremamente necessário para o seu desenvolvimento global. Esse
fato não exclui a importância do papel da família para que esse processo se concretize.
Para tanto, ela precisa receber o maior número de informações possíveis sobre a
deficiência do filho.
Quanto mais informação e orientação a família receber e quanto mais ela souber da
importância desse tipo de conhecimento para o desenvolvimento de seu filho, mais
adequadamente lidará com as limitações impostas pela deficiência. Destacam-se, para
essa modalidade de informação e orientação, os programas de estimulação precoce, que
são parte integrante dos diversos tipos de atendimento oferecidos à criança com
deficiência. Esses programas têm papel preventivo, buscando intervir nas diversas áreas
do desenvolvimento infantil: motora, cognitiva, socioafetiva, linguagem e
sensório-perceptiva. Convivemos, atualmente, com práticas de educação especial,
movimentos em defesa das pessoas com deficiência nos quais as próprias pessoas
tomam as decisões sobre os caminhos a seguir, e temos, ainda, pessoas escondidas em
casa pelos familiares porque estes sentem vergonha de terem um filho com deficiência.
Ainda estamos convivendo com práticas de atendimento assistencialista e de “preparação
constante” para uma integração que deve vir em um futuro que nunca se transforma em
presente, como nos afirma Baptista (2003).
Ao mesmo tempo, presenciamos práticas de exclusão social de pessoas com deficiência
que permanecem, por toda uma vida, fechadas dentro de casa sem o convívio com
pessoas de fora da família.
Porém podemos encontrar práticas que apontam para um processo de inclusão,
envolvendo pessoas com deficiência,familiares e a sociedade mais ampla. Na última
década do século passado,houve um avanço expressivo nessa caminhada em prol da
inclusão,que supõe uma profunda transformação da escola, e a maior delas diz respeito,
em especial, à alteração no foco de atenção, pois, ao passar a olhar também para o meio
e não apenas para a pessoa considerada como deficiente, novas questões se apresentam
e possibilidades se avistam.
A transformação da escola implica em mudanças em vários aspectos, como edificação,
mobiliário,recursos didático-pedagógicos, acervo de laboratórios e bibliotecas,currículo
e,principalmente, na mentalidade de toda a comunidade escolar e das famílias de alunos.
Assim,a educação de crianças com deficiência, nas últimas décadas, sofreu mudanças
substanciais,buscando ampliar as alternativas educacionais e terapêuticas,
oferecendo,concomitantemente, oportunidades de participação nos diferentes contextos
sociais, que se constituem em um dos fatores preponderantes para a construção da
educação inclusiva.
O meio social, representado por diferentes segmentos, constitui um dos fatores mais
decisivos para a construção da educação inclusiva. De toda a comunidade escolar, os
professores são um segmento particularmente importante na promoção do ensino
inclusivo. De um modo geral, eles não recebem formação especializada para lidar com
essa nova situação que apresenta o aluno deficiente nas suas salas de aula. Essa
formação não consistiria apenas na capacitação para a compreensão das características
e necessidades do aluno deficiente e para a utilização de ampla variedade de recursos,
mas teria,também,que levar à construção de uma nova visão de ensino e de
aprendizagem fundada em atitudes genuinamente favoráveis à inclusão. Embora a
inserção do aluno com deficiência na sala comum seja determinada pela legislação
vigente, essa medida não lhe assegura o acolhimento tanto por parte dos professores
como dos colegas de sala.
Muitas das decisões a serem tomadas, as medidas adotadas para a acolhida positiva e a
provisão do imprescindível suporte ao aluno especial, visando ao convívio produtivo a
toda a classe, podem depender da correta compreensão da proposta da educação
inclusiva e das atitudes sociais genuinamente favoráveis à inclusão por parte do
professor.
A falta de atitudes sociais positivas pode provocar o fracasso da inclusão do aluno.
Nesse sentido, é importante que o professor tenha iniciativa e disponibilidade interna para
aceitar e apoiar esses alunos.
O conceito de atitudes sociais parece adequar-se bastante ao estudo das reações das
pessoas diante da inclusão, por envolver valores pessoais muito enraizados sobre direitos
e normas de convívio social.
As reações manifestadas face à inclusão,com certeza, possuem fortes componentes
cognitivos, emocionais e comportamentais que se constituem vinculados às atitudes
sociais.
Nesse sentido,algumas variáveis devem ser consideradas, como a idade,o tempo de
experiência no atendimento educacional ao aluno com deficiência,o nível de
escolaridade,e podem ser preponderantes para as atitudes sociais frente à inclusão do
aluno com deficiência intelectual. Além das variáveis próprias do professor,algumas
características do aluno com necessidades educacionais especiais,notadamente o grau
do seu comprometimento, e do contexto escolar no qual ocorre a inclusão podem
determinar maior ou menor aceitação pelos professores.
A inclusão de alunos com comprometimentos menos severos é mais aceita que a dos que
precisam de assistência constante, como os deficientes múltiplos.
Por outro lado, verificamos que existe uma melhor aceitação da inclusão de alunos com
deficiência física do que daqueles com deficiência intelectual, déficit cognitivos, problemas
emocionais ou comportamentais.
Evidentemente, além da compreensão das características e necessidades especiais de
alunos deficientes e do treinamento para a utilização de estratégias de ensino inclusivas,a
capacitação de professores para o ensino inclusivo requer o desenvolvimento de atitudes
sociais genuinamente favoráveis a ele (Omote, 2005).
O contato com a pessoa com deficiência nem sempre é simples; nele estão implicadas
condições sociais e emocionais.
Para o professor também não é diferente.
Apenas manter o contato não é suficiente para se modifique o olhar dirigido a esses
indivíduos.
É necessário que o professor,além do conhecimento e da informação sobre a deficiência,
se proponha também a ver a pessoa que está ali à sua frente;a ver que, apesar de suas
limitações,trata-se de um indivíduo que tem sentimentos,emoções e desejos.
Por isso,a oferta de um programa de capacitação para esses profissionais é de primordial
importância, para que lhe sejam oferecidas oportunidades não só para o domínio de
métodos, técnicas e recursos de ensino,capazes de atender às mais variadas
necessidades educacionais do seu aluno,mas também para a construção de uma
concepção sobre o ensino e sobre o desenvolvimento e a aprendizagem de seus alunos,
ou seja, uma concepção que,genuinamente,acolha todas as diferenças apresentadas
pelos alunos. Tal formação implica a revisão de seus pontos de vista e convicções acerca
dessas questões, frequentemente fundados em estereótipos e preconceitos. Quando a
concepção de educação em que se baseia a formação desses professores é a do ensino
inclusivo, é particularmente produtiva a inserção de uma breve disciplina planejada
prioritariamente para a construção de atitudes sociais genuinamente favoráveis à
inclusão, além da inserção, em diferentes disciplinas, de tópicos que devem ser tratados
em diversas áreas de conhecimento. Segundo Omote (2005), os professores necessitam
de suporte de várias ordens para desenvolver atividades adequadas em salas de aula
inclusivas, tais como: materiais instrucionais apropriados e apoio de pessoal
especializado, uma política claramente estabelecida e compromisso dos gestores para
lidar com situações especiais que requeiram medidas particulares,como treinamento e
supervisão contínua, ampliação do tempo para planejamento de atividades ou redução do
tamanho da classe.
Esse profissional necessita do suporte e do auxílio de todo o ambiente escolar para ousar
e poder experimentar,com ética e responsabilidade,práticas pedagógicas inovadoras em
busca de experiências educacionais capazes de promover a inclusão educacional;é
preciso consolidar uma prática social que encoraje toda a comunidade escolar,incluindo
os alunos e suas famílias, a rever suas velhas crenças e comportamentos em relação a
alunos e professores,ao ensino e aprendizagem, às funções da escola e a outras
questões da vida escolar comunitária. Faz se necessária, acima de tudo, a construção de
uma cultura inclusiva no interior das nossas escolas e que tenha repercussões na
comunidade na qual essas escolas estejam inseridas.
Estratégias de sala de aula
Quais são os recursos materiais?
Quais as necessidades dos envolvidos no processo: alunos, professores e pais? Para
levar o projeto adiante,é preciso conhecer as características dos alunos,propiciando o
conhecimento das necessidades desse grupo de alunos.
O contato com esse tipo de informação não deve se configurar em um drama ou recusa
em ver as habilidades e potencialidades que eles possuem, nem tampouco no
empobrecimento da oferta de oportunidades. Também é necessário o investimento na
formação continuada dos professores, no sentido de sensibilizá-los a trabalharem em prol
da equiparação das oportunidades oferecidas a cada um dos alunos. Receber um aluno
com deficiência deve nos impulsionar e estimular a rever nossa prática e buscar novas
formas de ensinar,promovendo a interação e a troca entre os alunos,os quais se
beneficiarão amplamente com essa vivência, ao compreenderem que toda criança é
diferente.
Com isso,torna-se possível compreender melhor as crianças e diminuir as atitudes
explícitas de discriminação.
Nesse sentido, vários estudos sinalizam que as escolas inclusivas,tanto no Brasil como
no mundo,são benéficas para todos os envolvidos,pois os alunos com deficiência
aprendem melhor e mais rapidamente,já que encontram modelos positivos nos
colegas,contam com a sua ajuda e, em contrapartida,também podem ajudar os colegas.
Isso propicia-lhes aprender a lidar com suas próprias dificuldades e a conviver com as
demais crianças.
Já os alunos que não possuem deficiência também se beneficiam, porque aprendem a
lidar com as diferenças individuais,a respeitar os limites do outro e a partilhar os
processos de aprendizagem. Enfim,todos os alunos,com ou sem deficiência,saem
ganhando, porque aprendem a reconhecer as necessidades e competências dos colegas,
a respeitar as pessoas, a criar e desenvolver laços de amizade assim como a diminuir a
ansiedade diante das dificuldades. Embora seja importante a cooperação em sala de
aula,ela também deve acontecer fora da sala de aula,num movimento de interação e
interlocução entre professores gestores, família e comunidade.
Embora seja importante a cooperação em sala de aula, ela também deve acontecer fora
da sala de aula,num movimento de interação e interlocução entre
professores,gestores,família e comunidade. Os professores atuam como facilitadores da
aprendizagem dos alunos contando com o auxílio,dentro e fora da escola,dos professores
especializados em trabalhar com alunos com deficiência, dos pedagogos,psicólogos e
intérpretes da língua de sinais bem como de monitor ou cuidador de alunos com
necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimentação e locomoção (BRASIL,
2010).
As atividades dos professores da sala regular e do professor especializado devem ser
complementares. Ou seja,enquanto o professor do ensino regular assume, por
exemplo,as atividades e os conteúdos da área acadêmica,o professor especializado
ensina alguns alunos a identificarem as ideias principais de um texto,a fazer resumos,
enfim, a dominar técnicas de estudo, utilizando diferentes recursos e estratégias
educacionais, oferecendo apoio suplementar a qualquer aluno que dele necessite.
Esse tipo de atendimento pode ser oferecido de forma individualizada ou em pequenos
grupos.
No entanto,para que isso aconteça,é necessário que esses professores tenham
disponibilidade de horário para a elaboração conjunta do planejamento e também que
haja compatibilidade entre os estilos de trabalho e personalidades dos dois professores. O
processo de avaliação pedagógica deve ser dinâmico, pois leva em consideração o
conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno. Quanto às suas
possibilidades de aprendizagem futura,esse processo de avaliação fará a análise do
desempenho do aluno em relação ao seu progresso individual, prevalecendo os aspectos
qualitativos da intervenção do professor. Por outro lado,a escola também precisa buscar e
estabelecer parcerias com outros setores da sociedade,para que as pessoas com
deficiência possam,efetivamente,ser inseridas nesses espaços e para que a própria
comunidade rompa as barreiras da resistência e do preconceito. Dessa forma a
comunidade também se configura como um agente externo que contribui para o
fortalecimento e a multiplicação das ações inclusivas.
A família pode contribuir para o processo de escolarização de seus filhos,oferecendo
informações reais sobre o nascimento, composição familiar,desenvolvimento físico e
emocional,processo anterior de escolarização,necessidades e dificuldades do
filho,estímulos proporcionados e suas expectativas em relação ao processo de
aprendizagem,independentemente da deficiência que o filho apresenta.
Principalmente,a família deve também se responsabilizar por e se envolver efetivamente
no processo de aproveitamento e desempenho escolar do filho. Cabe à escola a
manutenção de um canal de diálogo com a família,estimulando sua participação nas
reuniões da escola e construindo um clima de confiança para que os pais possam
manifestar as suas dúvidas e angústias sobre a escolarização dos filhos.
A Escola Inclusiva e seu Projeto Político Pedagógico
O direito à educação,à igualdade de condições sem discriminação e à permanência
dentro da escola está assegurado pela nossa Constituição (1988),que oferece respaldo
para todos aqueles que propõem avanços significativos para a educação escolar de
pessoas com deficiência.
A Constituição elege,em seu Artigo 1º,incisos II e III, como fundamentos a cidadania e a
dignidade da pessoa humana, tendo seus objetivos fundamentais expostos no Artigo 3º,
inciso IV - a promoção do bem de todos,sem qualquer tipo de preconceito de
origem,raça,sexo,cor,idade ou quaisquer outras formas de discriminação.
A Constituição Federal garante,ainda, em seu Artigo 5º,o direito à igualdade e,no Artigo
205 e seguintes,o direito de todos à educação,que visa ao desenvolvimento pleno da
pessoa,seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação e preparação para o
trabalho.
Também a Declaração de Salamanca (1994) e outros documentos internacionais dos
quais o Brasil é signatário legislaram em defesa de uma sociedade para todos,partindo do
princípio fundamental de que todas as pessoas devem aprender juntas, independente de
quaisquer limitações,dificuldades ou diferenças que essas possam apresentar.
Apesar de o Brasil ter determinado esse direito a todas as crianças, ainda, em nossos
dias, esse acesso à educação é dificultado pela falta de informação, pela discriminação e
por atitudes preconceituosas dentro e fora da escola. Nesse sentido, vemos que grande
parte das crianças com deficiência, quando chegam à escola, não recebem o apoio
necessário para atender às suas necessidades educacionais.
A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, nº 9394/96 e da
Resolução nº 2/2001, os alunos com necessidades educacionais passaram ser
observados e, na medida do possível, integrados ao ensino regular.
São leis que lhes asseguram um conjunto de recursos, apoios e serviços educacionais
especiais,organizados para apoiar, complementar e suplementar e,em alguns casos,
substituir os serviços educacionais comuns,de modo a garantir a educação escolar e
promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam
problemas no desenvolvimento da aprendizagem, os quais podem ser de caráter
temporário ou permanente, compreendendo:
I. dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de
desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, não
vinculadas a uma causa orgânica específicas ou relacionadas a distúrbios, limitações ou
deficiências;
II. dificuldades de comunicação e sinalização, demandando a utilização de outras línguas,
linguagens e códigos aplicáveis; III. condutas típicas de síndromes e quadros
psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos;
IV. crianças superdotadas, com altas habilidades. (BRASIL,1996,p.10)
A falta de apoio ao aluno com deficiência pode provocar o isolamento, além de impedir
que a criança progrida para os níveis mais elevados de ensino; além disso,contribui para
o fracasso e a evasão escolar,deixando explícito o tratamento que perpetua a
desigualdade de condições e a permanência dessas crianças dentro da escola.
A escola é lugar de concepção, realização e avaliação de seu projeto educativo,uma vez
que necessita organizar seu trabalho pedagógico com base em seus alunos (Mantoan,
2003) e assumir suas responsabilidades (Glat, 2007).
Assim,pautado na Constituição (1988),para que o direito à educação,ao acesso e à
permanência da criança com deficiência na rede regular de ensino seja efetivo,é
necessário que haja a mobilização da escola como um todo, que ela se disponha a aceitar
essas crianças apesar de suas limitações e/ou dificuldades. Para Mantoan (2003),a base
do desenvolvimento humano é a diversidade; os ambientes humanos de convivência e de
aprendizado são plurais pela própria natureza e,assim sendo, a educação escolar não
pode ser pensada e realizada senão a partir da ideia de uma formação integral do aluno,
segundo suas capacidades, talentos, e de um ensino participativo, solidário, acolhedor.
Portanto, todo e qualquer tipo de comportamento e atitude de rejeição e discriminação
deverá ser evitado e combatido.
líderes,devem tornar-se agentes modificadores da inserção destes alunos em sala de
aula” (BRASIL,2000,p.10). Para Mantoan (2003),o diálogo e a vivência com as diferenças
devem ser o principal objetivo da escola, possibilitando aos professores e alunos
vivenciarem concretamente essa experiência,ou seja, conversarem abertamente sobre
como a criança se sente junto ao colega que tem deficiência,suas expectativas e medos.
O diálogo a partir do que as crianças conhecem sobre a deficiência,poderá auxiliá-las a
ter uma postura mais adequada com o coleguinha que apresenta uma deficiência.
A perspectiva de se formar uma nova geração dentro de um projeto educacional inclusivo
é fruto do exercício diário da cooperação e da fraternidade,do reconhecimento e do valor
das diferenças, o que não exclui a interação com o universo do conhecimento em suas
diferentes áreas (MANTOAN,2003,p.26). Além disso,é importante que os pais sejam
sensibilizados e envolvidos;assim conseguirão aceitar,entender e colaborar com a
escola,e com o próprio filho, para acolher a criança com algum tipo de deficiência.
Mantoan (2003) questiona se as propostas e políticas educacionais que proclamam a
inclusão estão,realmente,considerando as diferenças na escola.
Se essas propostas reconhecem e valorizam as diferenças, como condição para que haja
avanço,mudanças,desenvolvimento e aperfeiçoamento da educação escolar.
Para a autora,a ética,em sua dimensão crítica e transformadora, é a que referenda a luta
daqueles que acreditam na inclusão escolar.
Infelizmente,temos posturas e atitudes que influenciam significativamente a produção das
diferenças e das desigualdades dentro da escola,acreditando-se na ilusão da
homogeneidade dentro da realidade escolar,buscando,dessa forma,promover e justificar a
fragmentação do ensino e,consequentemente,do conhecimento. Para a autora,nossas
ações educativas têm como eixos o convívio com as diferenças,a aprendizagem como
experiência relacional, participativa,que produz sentido para o aluno,pois contempla a sua
subjetividade,embora construída no coletivo das salas de aula. Os dispositivos legais que
temos à nossa disposição seriam suficientes para que não negássemos a qualquer
pessoa,com ou sem deficiência,o acesso à sala de aula e sua permanência nela.
No entanto,o que vemos é o enfrentamento das mudanças provocadas pela inclusão
escolar,até mesmo no discurso pedagógico,que se reduz,invariavelmente,a um grupo de
alunos,quase sempre àqueles com deficiência.
As pessoas contrárias à proposta de inclusão usam como argumentos a impossibilidade
prática da inclusão,especificamente nos casos dos alunos com autismo e com
deficiências intelectual e múltipla.
Diversos autores,dentre eles Omote et al. (2005),afirmam que a inclusão de alunos com
comprometimentos menos severos é mais aceita que a dos que precisam de assistência
constante,como os deficientes múltiplos (p. 388).
Algumas características do aluno com necessidades educacionais especiais,notadamente
o grau do seu comprometimento, podem determinar maior ou menor aceitação por parte
dos professores.
O objeto atitudinal foi especificado,sinalizando algumas condições pontuais do grau de
comprometimento e do contexto escolar no qual ocorre a inclusão,Segundo Lanier &
Lanier (1996 apud Omote,2005),a inclusão de alunos com comprometimentos menos
severos é mais aceita que a dos que precisam de assistência constante,como os
deficientes múltiplos.
Por outro lado,conhecemos os argumentos oferecidos pela escola tradicional,que ainda
resiste ao processo de inclusão,utilizando as mais diferentes e inaceitáveis justificativas,o
que nada mais é do que a sua incapacidade de atuar e lidar com a diversidade sempre
presente nos seres e nos grupos humanos, que provêm de contextos culturais e
diferentes segmentos sociais,presentes no âmbito da escola.
Nesse sentido,A diversidade ou a variabilidade intraespecífica e as diferenças
interindividuais representam um grande patrimônio, do qual pode depender a
adaptabilidade da espécie ao seu meio, assegurando,em última instância, a sua
sobrevivência. Entretanto, nem todas as características diferentes são intrinsecamente
vantajosas. O caráter vantajoso ou desvantajoso às características adquire em interação
com o meio (OMOTE, 2004, p.288).
Estas diferenças interpessoais produzem e ampliam conhecimentos e têm
desejos,sentimentos,aspirações,valores e costumes com os quais se identificam.
A escola,para muitos alunos,é o único espaço onde poderá ter acesso ao
conhecimento,que vai lhes proporcionar condições de se desenvolver e de se tornar um
cidadão,de se tornar alguém com identidade social e cultural,lugar que lhes confere
oportunidades de ser e de viver dignamente. Nesse sentido,é o espaço onde a inclusão
também se legitima (Mantoan,2003). Portanto,o processo da inclusão é
necessário,porque através dele teremos condições para melhorar a escola,no sentido de
propiciar a formação de gerações mais preparadas para romper,de forma plena,não
somente as barreiras arquitetônicas,mas também,e principalmente,as barreiras atitudinais
que geram tanto o preconceito como a estigmatização. Para Glat,Pletsch e Fonte(2007),o
princípio democrático da educação para todos deve ser a base de todo o processo.
E ele só se evidencia nos sistemas educacionais que se especializam em todos os
alunos,e não apenas em alguns deles, como no caso dos alunos com deficiência.
Para Mantoan (2003),mudar a escola significa enfrentar muitas frentes de trabalho,cuja
tarefa fundamental é recriar o modelo educativo escolar vigente,tendo como eixo
norteador o ensino para todos.
É necessária a abertura de espaços para exercitar as habilidades mínimas para o
exercício da cidadania: cooperação,diálogo, atitudes de
solidariedade,reciprocidade,criatividade e espírito crítico por parte dos professores,
administradores, funcionários, pais e alunos, sem perder de vista a importância da
formação continuada dos professores.
Vários estudos enfatizam que a decisão de incluir ou não o aluno com deficiência
depende da vontade do professor em aceitar e apoiar esses alunos (Lanier e
Lanier,1996,apud Omote,2005).
Por outro lado,outro aspecto a ser enfatizado refere-se às ações, no sentido de efetivar as
mudanças,visando ao convívio produtivo de toda a classe.
Essas mudanças podem depender da correta compreensão da proposta da educação
inclusiva e das atitudes sociais genuinamente favoráveis à inclusão por parte do
professor,uma das variáveis mais importantes para o sucesso dela.
Assim,é enfatizado que as práticas inclusivas podem fracassar se professores do ensino
comum não tiverem atitudes sociais positivas em relação a essas práticas.
O conceito de atitudes sociais parece adequar-se bastante ao estudo das reações das
pessoas face à inclusão.
Estas atitudes,invariavelmente,estão impregnadas por valores pessoais muito
arraigados,difíceis de serem removidos,provocando preconceito e discriminação,desta
forma,as atitudes sociais positivas a,atualmente,por são relevantes e politicamente
corretas.
Além disso,segundo OMOTE (2005),as reações manifestadas face à inclusão,com
certeza,possuem fortes componentes cognitivos, emocionais e comportamentais que se
constituem vinculados às atitudes sociais.
A importância do estudo das atitudes sociais não está apenas na sua associação com o
comportamento,mas também no fato de que elas indicam as definições do problema
mantidas pelos membros de uma coletividade e servem de quadro de referência dentro do
qual ocorrem comportamentos direcionados ao objeto atitudinal (Altman, 1981apud
Omote, 2005).
Somente a partir da compreensão das atitudes sociais dos professores em relação à
inclusão, será possível ter alguma ideia das condutas, positivas ou negativas, que eles
adotam em suas salas de aula. Assim, a escola, através do professor, prepara o futuro.
Mantoan (2003) afirma que,se as crianças aprenderem a valorizar e a conviver com as
diferenças em sala de aula,reunirão melhores condições de serem adultos muito
diferentes de nós,que ainda temos que nos empenhar muito para entender como conviver
com a diferença. Por outro lado,a autora afirma que a inclusão não prevê a utilização de
métodos e técnicas de ensino específicos para esta ou aquela deficiência e/ou dificuldade
de aprender.
Nas práticas e métodos pedagógicos, predominam a experimentação, a criação,a
descoberta,a coautoria do conhecimento. Vale o que os alunos são capazes de aprender
hoje e o que podemos lhes oferecer de melhor para que se desenvolvam em um ambiente
rico e verdadeiramente estimulador de suas potencialidades. Os alunos aprendem nos
seus limites.
A escola de qualidade é o espaço educativo de construção de indivíduos
autônomos,independentes e,sobretudo,críticos,no qual as crianças aprendem a ser
pessoas.
Ainda,segundo a autora,é nesse espaço educativo que ensinamos os alunos a
valorizarem a diferença pela convivência com seus pares. Os exemplos fornecidos pelos
professores,o ensino ministrado nas salas de aula,o clima socioafetivo das relações
estabelecidas em toda a comunidade escolar,a ausência de tensões competitivas, a
solidariedade,a participação efetiva são elementos fundamentais para que a inclusão seja
concretizada.
Ou seja,são esses contextos educacionais,em que todos os alunos têm possibilidade de
aprender, frequentando uma mesma e única turma,que propiciarão o respeito,o
desenvolvimento, a aceitação e,sobretudo,a inclusão desses alunos.
A possibilidade de ensinar todos os alunos,sem discriminação e sem métodos e práticas
do ensino especializado deriva de uma reestruturação do projeto pedagógico- escolar
como um todo e das reformulações que esse projeto exige da escola,para que esta se
ajuste a novos parâmetros de ação educativa.
Assim, a reorganização das escolas depende de um encadeamento de ações que estão
centradas no projeto político-pedagógico.
Esse projeto será uma ferramenta de vital importância para que as diretrizes gerais da
escola sejam traçadas com realismo e responsabilidade.
Os dados do projeto-político pedagógico esclarecem o diretor, os
professores,coordenadores,funcionários e pais sobre a clientela, os recursos humanos e
materiais de que a escola dispõe.
Os currículos,a formação das turmas, as práticas de ensino,a avaliação são aspectos da
organização pedagógica das escolas e serão revistos e modificados com base no que for
definido pelo projeto político-pedagógico da escola. Sem os conhecimentos levantados
por esse projeto,será impossível elaborar currículos que reflitam o meio social e cultural
do alunado. Modificações essas que devem partir das experiências e vivências dos alunos
para chegar à sistematização dos conhecimentos,seus saberes e fazeres e significados e
que precisam do trabalho conjunto, comum ao grupo e não de forma solitária e
excludente.
É necessário identificar e reconhecer as limitações do aluno,especificamente com
deficiência, mas que elas não sejam evidenciadas,uma vez que o sucesso da
aprendizagem desses alunos está justamente na exploração de suas potencialidades, das
suas habilidades,além das predisposições naturais para aprender.
No dizer de Mantoan (2003),com a experiência de trabalho coletivo,em pequenos e
diversificados grupos,abrimos a possibilidade exercitarmos:
1. a capacidade de decisão dos alunos diante da escolha de tarefas;
2. a divisão e o compartilhamento das responsabilidades com seus pares;
3. o desenvolvimento da cooperação;
4. o sentido e a riqueza da produção em grupo;
5. o reconhecimento da diversidade dos talentos humanos e a valorização do trabalho de
cada pessoa para a consecução de metas que lhes são comuns (MANTOAN, 2003).
O tempo de construção de uma competência varia de aluno para aluno,e sua evolução só
será percebida por meio da mobilização e da aplicação daquilo que o aluno aprendeu ou
daquilo que ele já sabia para chegar às soluções pretendidas.
térios de avaliação e de promoção devem ser reorganizados,de forma a cumprir os
princípios constitucionais da igualdade de direito ao acesso e permanência na escola,bem
como do acesso aos níveis mais elevados do ensino,segundo a capacidade de cada
aluno (BRASIL,1996). Nesse sentido,a avaliação torna-se um instrumento de
aperfeiçoamento e depuração do ensino e,quando a tornarmos mais adequada e
eficiente,diminuiremos substancialmente o número de alunos excluídos das escolas
(Veltrone e Mendes, 2010).
Cabe,portanto,ao professor entender melhor as dificuldades e limitações do aluno,assim
como as potencialidades existentes, uma vez que se espera dele uma participação efetiva
na construção do conhecimento de seus alunos.
Com isso,os diferentes significados que os alunos atribuem a um dado objeto de estudo e
as suas representações vão se expandindo e se relacionando pouco a pouco,numa
construção original de ideias que integram e revelam as contribuições de cada aluno e do
professor,dentro da perspectiva inclusiva,o que requer ressignificar o papel do
professor,da escola e da educação.
Os professores esperam receber uma preparação para ensinar os alunos com deficiência
e/ou dificuldades de aprendizagem e com problemas de indisciplina, ou melhor, uma
formação que lhes permita aplicar esquemas de trabalho pedagógico pré-definidos às
suas salas de aula,garantindo-lhes a solução dos problemas que presumem encontrar
nas escolas ditas inclusivas, uma vez que as práticas pedagógicas usuais contribuem
para a perpetuação de um contexto educacional excludente.
Omote (2005)afirma que,nos programas de capacitação e formação de professores,uma
das grandes preocupações é o papel crítico desempenhado pelos professores na
promoção do ensino inclusivo,é a tarefa de prepará-los para trabalhar com alunos com
necessidades educacionais especiais,inseridos em classes de ensino comum, tendo em
vista que muitos deles relatam a falta de preparação profissional adequada para lidar e
ensinar alunos com necessidades educacionais especiais e solicitam treinamento (Balboni
& Pedrabissi,2000 apud Omote,2005).
Considera-se o professor não apenas um mero instrutor, mas sim uma referência para o
aluno,portanto,na formação,enfatiza-se a importância de seu papel tanto na construção do
conhecimento como na formação de atitudes e valores do cidadão.
Assim sendo,a formação vai além dos aspectos instrumentais de ensino.
Essa formação continuada de professores e dirigentes pode ser feita através de cursos
breves que abordem as características e necessidades de alunos com deficiência ou por
meio da introdução desses tópicos em algumas disciplinas de cursos de formação.
Isso pode provocar mudanças de atitudes sociais favoráveis à inclusão.
No entanto Omote(2005),Mantoan (2003) e Veltrone e Mendes (2010) salientam
que,evidentemente,não é o simples contato com o tema que,por si só,vai garantir a
mudança de atitude na direção favorável. Dependendo da natureza da experiência e das
informações obtidas,as atitudes sociais podem se tornar mais negativas (OMOTE et
al,2005, p. 390).
Assim como qualquer aluno,os professores não aprendem no vazio. Por isso a proposta
de formação deve partir do “saber fazer” desses profissionais,que já possuem
conhecimentos,experiências, crenças, esquemas de trabalho,ao entrarem em contato
com a inclusão ou qualquer outra inovação educacional.
A partir das experiências e vivências concretas da realidade escolar, principalmente em
sala de aula,o professor poderá exercitar constantemente a reflexão e o compartilhamento
de ideias, sentimentos,ações entre os professores,diretores,coordenadores da
escola,sendo esse um dos pontos-chave do aprimoramento em serviço,constituindo-se na
matéria-prima das mudanças pretendidas pela formação. Com isso,os professores são
incentivados a todo instante a interagirem com seus pares,a estudarem juntos e a
estarem abertos a colaborar com seus colegas na busca de novos caminhos pedagógicos
da inclusão. Nas escolas,o movimento inclusivo ainda é muito contestado, porque,diante
dele e das possibilidades de mudança nele implicadas,as pessoas se sentem ameaçadas.
Mantoan (2003) propõe o apoio ao professor dado pelos professores itinerantes ou
também pelos coordenadores pedagógicos sediados nas escolas. Se um aluno não vai
bem,seja ele uma pessoa com ou sem deficiência, o problema precisa ser analisado em
relação ao ensino que está sendo ministrado para todos os demais da turma.
Ele é um indicador importante da qualidade do trabalho pedagógico porque o fato de a
maioria dos alunos estar se saindo bem não significa que o ensino ministrado atenda às
necessidades e possibilidades de todos.
As discussões atuais em torno do fazer pedagógico são unanimes em reafirmar que a
construção de uma proposta pedagógica, legitimada como o documento norteador de
todo o trabalho na escola, é imprescindível quando se pretende alcançar uma educação
de qualidade.
De forma dinâmica,a proposta pedagógica visa estimular as ideias inovadoras no âmbito
educacional para que trabalhe com as diversas áreas do conhecimento. Com isso, busca
atender à realidade histórica de cada escola,no contexto socioeconômico e cultural no
qual está inserida,configurando-se em um processo democrático de organização e
decisões sobre o trabalho pedagógico.
Portanto é um modelo único e inovador,construído coletivamente; um instrumento que
responde às necessidades sociais da comunidade: ”para que” e “para quem” se ensina
(BARBOSA e HORN,2008,p.43-44). Carmo (2001,p.46) analisa que existem dois
aspectos em que o espaço escolar precisa ser analisado: a escola atual,que fixa o tempo
e o espaço,sem se importar com as consequências decorrentes dessa ação.
Para BARBOSA E HORN (2008),a construção do espaço é eminentemente social,e este
está entrelaçado com o tempo de forma indissolúvel, entendido numa perspectiva definida
em diferentes dimensões: a física,a funcional, a temporal e a relacional, dando
legitimidade como um elemento cultural (p.49).
A implicação pedagógica decorrente nos remete à confirmação da importância da
organização desse espaço interferindo, significativamente,no processo de aprendizagem.
O outro aspecto refere-se ao processo de ensino-aprendizagem, durante o
qual,infelizmente,o foco ainda é a diferença e a desigualdade,aspectos esses que se
tornam explícitos em seus conceitos e notas,ênfase na distinção e comparação dos
resultados frente ao desempenho individual dos alunos entre si. Com isso, a
escola,intencionalmente,segundo Carmo (2001), valoriza o desempenho quantitativo,em
detrimento do desenvolvimento real da criança. Nesse sentido,o fracasso na
escolarização dessas crianças é uma questão reativa a um sistema que efetivamente não
os aceita, que não reconhece o seu saber e obriga-os a acumular conhecimentos
(Fernandez, 1991).
A apropriação do processo de aprender implica,segundo Fernandez (1991),a
individualidade,o desejo de quem aprende e de quem ensina.
Assim,a aprendizagem só será eficaz e significativa se houver a elaboração de sentido e
se essa atividade acontecer dentro de um contexto histórico e cultural, uma vez que é na
vida social que os indivíduos adquirem marcos de “referência para interpretar as
experiências e aprender a negociar os significados de modo congruente com as
demandas da cultura” (Barbosa e Horn,208,p.26). O outro aspecto considerado pelo
mesmo autor diz respeito à fixação do espaço e à flexibilização do tempo com escolas de
ciclos e adaptadas,onde ocorrem diferentes experiências integradoras,tais como:
a. classes especiais,embora,nesta modalidade de ensino,as crianças fiquem agrupadas
num mesmo espaço. Apesar disso, nas classes especiais,não ocorre a flexibilização do
tempo,pois as crianças consideradas diferentes são agrupadas nesse mesmo espaço.
Além disso,o tratamento e metodologias especiais utilizadas para atender a esses
alunos,deveria ser de acordo com as suas potencialidades.
Isso porque a grade curricular,bem como as exigências educacionais e o tempo letivo são
os mesmos utilizados para as salas regulares.
b. Nas salas de recursos,também acontece o mesmo,com a atuação num tempo criado
para suprir lacunas e limitações dos alunos que não conseguiram acompanhar,em um
tempo fixado,as atividades previstas. As ações,aqui,possuem o objetivo de nivelar os
alunos. Os alunos com necessidades educacionais especiais são atendidos no contra
turno escolar, professora que faz este tipo de atendimento possui formação específica em
Educação Especial.
c. Quanto aos professores itinerantes, estes têm a função de auxiliar os professores das
salas regulares que possuem alunos com deficiência, embora percebamos que não
ocorre uma interação efetiva em relação ao tempo e ao espaço.
Nestes dois últimos aspectos,a formação dos professores também não contribui para que
possam oferecer uma educação adequada e com qualidade para os alunos com ou sem
deficiência. A LDB - Lei nº 9. 394/96 prevê,no seu Artigo 12, inciso I, que “os
estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de
ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica”.
A escola precisa ser autônoma para executar e avaliar seu o Projeto Político-pedagógico
(PPP),assumindo uma nova atitude de liderança, no sentido de refletir sobre as
finalidades sociopolíticas e culturais da escola.
Afinal, o que é o Projeto Político-pedagógico?
O projeto político-pedagógico de uma escola deve ser entendido como a própria
organização do trabalho pedagógico da escola como um todo.
Trata-se do instrumento teórico-metodológico,definidor das relações da escola com a
comunidade à qual vai atender; explicita o que se vai fazer,porque se vai fazer,para que
se vai fazer, para quem se vai fazer e como se vai fazer.
Segundo Veiga (2000),o termo projeto tem origem no latim projectu, que,por sua vez, é
particípio passado do verbo projicere, que significa “lançar para diante”. Plano,intento,
desígnio. É através dele que se vai estabelecer a ponte entre a política educacional do
município e a população. Para Veiga (2003), na construção do PPP, existe a necessidade
de se promover algumas reflexões sociopolíticas e filosóficas: o que se entende por
educação, qual o papel da escola na formação da cidadania, qual o contexto político,
econômico e social da comunidade na qual está inserida, a função social da escola,
contribuições que a escola tem oferecido para a comunidade, participação da comunidade
e dos pais no cotidiano escolar. Não se constrói um projeto sem uma direção política, um
norte, um rumo. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é também político.
O projeto pedagógico da escola é, por isso mesmo, sempre um processo inconcluso, uma
etapa em direção a uma finalidade que permanece como horizonte da escola (GADOTTI,
2000).
Além disso, deve questionar que tipo de cidadãos quer formar, qual a missão da escola,
seu perfil para cumprir essa missão, o que a gestão precisa para cumprir essa
missão,como deve acontecer a formação continuada dos professores, quais as
expectativas do gestor, dos professores, dos funcionários, dos pais e dos alunos quanto
ao trabalho da escola (VEIGA, 2000).
Seu desenvolvimento requer reflexão, organização de ações e a participação de todos:
dirigentes, professores, funcionários, pais e alunos, num processo coletivo de construção.
Sua sistematização nunca é definitiva,o que exige um planejamento participativo que se
aperfeiçoa constantemente durante a caminhada. Sem isso, a escola nunca poderá
alcançar seus objetivos.
Portanto o PPP norteará e dará suporte para a ação de cada um de seus agentes
(Silva,Souza,Nascimento e Castro,2010).
Ainda, segundo as autoras,o PPP implica,sobretudo,em uma forma de se contrapor à
fragmentação do trabalho pedagógico e sua rotinização à dependência dos efeitos
negativos do poder autoritário e centralizador dos órgãos de administração central.
O projeto é um meio de engajamento coletivo para integrar ações dispersas,criar sinergias
no sentido de buscar soluções alternativas para diferentes momentos do trabalho
pedagógico administrativo, desenvolver o sentimento de pertença, mobilizar os
protagonistas para a explicitação de objetivos comuns definindo o norte das ações a
serem desencadeadas, fortalecer a construção de uma coerência comum,mas
indispensável para que a ação coletiva produza seus efeitos (VEIGA,2003,p.275).
Segundo Veiga (2008), são sete os elementos básicos relevantes que contribuem
coletivamente para fazer a análise da situação da escola,tal como ela se encontra,e
estabelecer os objetivos.
É importante identificar o que deve ser feito para se ajustar o fazer da escola, de forma
que os objetivos estabelecidos possam ser alcançados,identificar como caminhar nessa
direção.
Cabe à gestão escolar promover a mobilização dos professores e funcionários e a
constituição do grupo como uma equipe que trabalhe cooperativa e eficientemente, além
de delegar poderes, estimular a autonomia, valorizando a atuação e a produção de cada
um. Cabe,ainda, à gestão escolar prover o respeito às relações interpessoais, inclusive
em ocasiões em que tem que promover ajustes no percurso de cada agente, exercendo
liderança na comunidade, levando as famílias e demais setores da comunidade para
dentro da escola.
O mobiliário, os espaços,a limpeza, o saneamento básico, os aspectos didáticos e
pedagógicos, teoricamente, determinam as ações das esferas administrativas, ou seja,
tudo o que for necessário para desenvolver interações políticas e as questões de
ensino-aprendizagem e do currículo. O currículo globalizado e interdisciplinar converte-se,
assim, em uma categoria guarda-chuva, capaz de agrupar uma variedade de práticas
educacionais desenvolvidas nas salas de aula, e é um exemplo significativo do interesse
em analisar a forma mais apropriada de contribuir para melhorar os processos de ensino
e aprendizagem (SANTOMÉ,1998,p.27).
Para Santomé (1998),o currículo é o mentor do trabalho pedagógico que visa à
construção do conhecimento.
É necessário que a escola perceba que ele é dinâmico,
que os componentes ideológicos devem ser desvelados e identificados. Isso implica,
portanto,na elaboração de uma análise critica, tanto da cultura dominante, como, e
principalmente, da cultura popular,pois o currículo deverá expressar uma cultura. Dessa
forma,é imprescindível que o currículo esteja atrelado ao contexto social. Outro aspecto
relevante para a organização do currículo é que seu conteúdo estabeleça uma relação
aberta e inter-relacionada em torno de uma ideia integralizadora.
Segundo Santomé (1988),os conteúdos curriculares,a metodologia e recursos de ensino,
a avaliação e a relação pedagógica implica no controle, que é instrumentalizado no
currículo oculto, em que as mensagens são transmitidas pela sala de aula e pelo
ambiente escolar (Cornbleth,1992,p.56 apud Santomé,1998),estimulando a perpetuação
das ideias e concepções sociais e a manutenção das desigualdades socioeconômicas e
culturais.
Avaliação do PPP parte da necessidade de conhecer a realidade da escola,de efetuar
uma análise critica e reflexiva para buscar entender e explicar as causas das reações
coletivas para chegar à sua resolução,ou seja,são necessárias a descrição e a
problematização da realidade escolar e também a compreensão crítica dessa realidade
problematizada e a proposição de alternativas de ação, configurada no momento da
criação coletiva. Segundo BUSSMAN (2008,p.38),“Esta é uma habilidade que cada escola
deve desenvolver num esforço comum,responsável e sempre aperfeiçoável”.
Com isso a escola terá como avaliar os resultados da própria organização do trabalho pedagógico. Entende-se,ainda,que a avaliação para a identificação das necessidades educacionais especiais deve ser realizada, em primeiro lugar, por uma análise do
professor junto com a equipe técnica pedagógica, a fim de sondar possíveis barreiras à aprendizagem, no entanto a avaliação psico educacional deve ser realizada por profissionais especializados. Nesse sentido, a construção da escola inclusiva exige
mudanças nessa cultura e nas suas consequências práticas.
A Escola Inclusiva e seu Projeto Político Pedagógico Perrenoud (2000) aponta alguns fatores que dificultam a construção de um trabalho coletivo no contexto educacional: a limitação histórica da autonomia politico administrativa do profissional da Educação e o individualismo dela consequente,a falta do exercício das competências de comunicação,de negociação, de cooperação,de resolução de conflitos, de planejamento flexível e de integração simbólica,a diversidade das personalidades que constituem o grupo de educadores e,até mesmo,a presença frequente da prática autoritária da direção ou coordenação do ensino.
Ainda segundo Perrenoud (2000),a construção de uma escola inclusiva implica em transformações no contexto educacional, transformações das ideias,de atitudes e da prática das relações culturais e sociais (âmbito político,administrativo e didático-pedagógico).
Finalizamos a Unidade IV, afirmando que a inclusão escolar, especificamente,do aluno com algum tipo de deficiência ainda suscita questionamentos em diferentes aspectos.
Não podemos deixar de considerar que ela é uma realidade, e que não podemos nos desvencilhar dela.
Então o que fazer,já que estamos em um caminho sem volta? A reflexão, a análise do papel da escola, dos pais e dos alunos, sobretudo dos professores, que estão na linha de frente, são aspectos extremamente relevantes. O argumento de falta de preparo e orientação é recorrente, mas a criança já chegou até a escola atendendo ao celebrado pela nossa legislação e por documentos internacionais dos quais o país é signatário.
Como a criança já está em sala de aula, cabe à escola se mobilizar como um todo, no sentido de que ela possa efetivamente ter acesso à educação, ser acolhida e principalmente que permaneça na escola. Para Carmo (2001), a estrutura orgânica da escola precisa ser questionada e modificada para que haja a efetiva inclusão. Quanto ao PPP, este configura-se como um processo sempre em construção coletiva, cujos resultados são gradativos, delineando a competência esperada pelo educador e pela sua atuação na escola, assegurada pela visibilidade e aperfeiçoamento da qualidade de ensino a que ele se propõe e que refletirá o envolvimento dos professores envolvidos nesse processo de construção coletiva.
A construção de uma programação curricular flexível é necessária para redefinir e construir, de forma sintética e clara, os objetivos da educação escolar de crianças com ou
sem deficiência.

BIBLIOGRAFIA:
APOSTILA CRUZEIRO DO SUL 

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